São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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Celebração evoca realeza

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nada mais apropriado para FHC do que celebrar a vitória da emenda da reeleição em Petrópolis. Poderia, é claro, ser em Fernandópolis, mas Petrópolis ganha em glamour e laudêmio, além, é claro, de evocar a realeza.
Não se pode precisar bem quem inventou a figura do rei, mas trata-se de fenômeno mais ou menos universal que comporta as mais diversas variações.
Embora em geral seja hereditária, a realeza pode ser eletiva, a exemplo do que ocorria na Alemanha medieval.
Outro fato comum à maioria das monarquias antigas é o seu caráter divino. O rei pode ser ele mesmo um deus (caso dos faraós egípcios) ou um seu preposto (como na Suméria). O fato é que ele de alguma forma ligava o povo à divindade. Foi só a partir do século 17, com o advento das monarquias constitucionais, que o poder real passou a derivar da população e não mais de um deus.
Embora seja bastante pouco provável que FHC já esteja se acreditando um deus (afinal, ele nem acredita Nele), fica um alerta. Principalmente nas sociedades agrícolas, os reis desempenhavam papel fundamental nos ritos de fertilidade, o que nem sempre era agradável, já que em muitos casos esses rituais exigiam o sacrifício do próprio monarca. Os mais espertos, contudo, souberam em tempo evitar a própria morte nomeando um "substituto oficial".
Os sem-terra e sem-laudêmio muito provavelmente gostariam de ver FHC degolado. Resta saber o que o presidente, que agora decidiu governar para "o ser humano", tem a oferecer em troca.

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