São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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Consciência ecológica pode preservar as praias de São Sebastião

FÁBIO FELDMANN

Nosso litoral é rico em paisagens, e essa beleza se destaca em São Sebastião, cidade litorânea privilegiada por abrigar uma costa onde o mar encontra a serra coberta pela Mata Atlântica.
Paradoxalmente, esse patrimônio natural que, se explorado com inteligência, representa uma alternativa econômica sustentável para o município e sua população, está ameaçado por um modelo de desenvolvimento irresponsável.
Basear a arrecadação tributária municipal na proliferação de condomínios e loteamentos que não incluem nos projetos o que, de fato, os valoriza, sua riqueza ambiental, significa colocar em risco seu próprio desenvolvimento.
Constatamos que o modelo econômico praticado até então pela maioria dos municípios litorâneos se mostrou ineficiente e de resultados desastrosos, como aconteceu no Guarujá, que hoje paga o preço da falta de planejamento. Por isso, terá de investir recursos que deveriam ser gastos com educação e saúde para recuperar parte do que perdeu em qualidade de vida.
Essa realidade deve ser mudada. O desenvolvimento do litoral deve contar com uma política ambiental global, conforme preconiza o Plano de Gerenciamento Costeiro, em discussão na Assembléia Legislativa de São Paulo.
Entre seus instrumentos inovadores está o sistema de gestão feito por um colegiado formado pela sociedade e pelos governos municipal e estadual.
Destacamos também o macrozoneamento econômico-ecológico e a criação de um sistema de informações ambientais. Eles contribuirão para o planejamento sustentável da região.
O Gerenciamento Costeiro permitirá a São Sebastião -município que assusta pela degradação observada a cada ano- a realização de projeto de desenvolvimento sustentável, baseado em economia conservacionista, que tenha por princípio preservar o meio ambiente, mantendo viva a "galinha dos ovos de ouro".
Um dos pressupostos desse modelo é privilegiar a difusão de informações à população. Nessa linha, a partir deste verão, mudamos a metodologia da balneabilidade das praias e a apresentação ao público, fato que gerou polêmica.
No entanto, o que é mais importante nessa discussão é abordar o problema que vem à tona com a divulgação sistemática da qualidade da água das praias.
Refiro-me aos projetos imobiliários implantados, ao longo dos anos, sem preocupação com coleta de lixo e tratamento de esgotos.
O que a Secretaria do Meio Ambiente entende como atividade econômica sustentável é a ocupação de São Sebastião e dos demais municípios litorâneos, tendo como premissa fundamental a preservação da qualidade de vida a partir da manutenção da Mata Atlântica, tanto pelo aspecto paisagístico como pela importância de sua biodiversidade.
Turismo de um dia
O planejamento das cidades à beira-mar deve levar em conta o turismo de um dia, segmento que preconceituosamente tem sido marginalizado.
Esse não deve ser tratado pela ótica da "casa-grande e senzala", pois todo cidadão tem o direito de usufruir desse lazer universal que são as praias. Para tanto, é preciso que lhes seja oferecida infra-estrutura básica, pela qual, tenho certeza, pagará com prazer.
A recuperação das praias de São Sebastião e, por que não, do litoral paulista, depende do esforço do conjunto da sociedade, de trabalhar por um turismo planejado, que não transfira para o litoral os grandes problemas -poluição, congestionamentos, filas e lixo- que levam à fuga de São Paulo e de outras regiões metropolitanas.

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