São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Equívoco na política de saúde

GIOVANNI GUIDO CERRI

Ao mesmo tempo em que o país começa a viver o ano da CPMF, o Ministério da Saúde, seguido pelas secretarias dos Estados, decidiu que não pagará mais os procedimentos não relacionados na tabela do SUS. O que parece uma medida justa é outro equívoco da administração de saúde.
Entre os procedimentos excluídos está a ressonância magnética, essencial para o diagnóstico de enfermidades do sistema nervoso.
Esse moderno método de imagem é utilizado de forma não-invasiva no diagnóstico de doenças vasculares, degenerativas, tumorais e infecciosas. Entre estas últimas, destacamos a neurocisticercose e a tuberculose, frequentes e próprias de um país subdesenvolvido como o nosso.
Está sendo negado à população mais carente o acesso a essa tecnologia, fundamental para o diagnóstico, em nome da contenção de gastos. Essa aparente economia é "burra", porque pretende trocar um exame de ressonância por uma tomografia e, com frequência, por procedimentos invasivos.
Como, atualmente, o SUS remunera os serviços por similaridade, a ressonância pelo valor de uma tomografia, o diagnóstico torna-se mais caro e menos eficiente. Pelo menos sobra o gosto de piorar um pouco mais a saúde no Brasil.
Os burocratas de plantão não perdem tempo. Estão estudando uma forma de dificultar ou mesmo não pagar também as tomografias computadorizadas, para tornar então o diagnóstico impossível.
A não-utilização dos métodos diagnósticos adequados encarece a medicina e prejudica o paciente. O que se deve fazer é racionalizar o uso dos métodos mais sofisticados, criando instrumentos de aferição das reais necessidades ou atribuindo a instituições reconhecidas a realização de tais exames.
O que falta a ministério e secretarias é fiscalizar o uso do dinheiro aplicado em saúde. Só órgãos que não se sentem competentes adotam a política de cortar procedimentos necessários.
Deveria existir uma lei obrigando os governantes e políticos a se tratar no SUS. Nada como provar do próprio remédio.
O equívoco está na política de saúde das últimas décadas. A quantidade de dólares per capita aplicada no Brasil está muito aquém do preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Demagogicamente, criam-se impostos esdrúxulos, que vêm onerar toda a população e são sempre desviados para outros fins.
Devemos ter pena de quem depende do SUS. Certamente essa não é uma preocupação de quem faz e conduz a política de saúde.

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