São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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MATANÇA IMPUNE

O saldo de um crime bárbaro ocorrido na madrugada de domingo em Embu é emblemático para se ter uma idéia da dimensão que as chacinas atingiram no Estado de São Paulo: cinco mortos, entre eles um menino de 10 anos de idade e uma garota de 12. Os feridos também incluem outras duas crianças, uma de 5 e outra de apenas 3 anos de idade.
Dentro da casa, a polícia diz ter encontrado pedras de crack, maconha e munição, o que indica ser o tráfico de drogas a motivação de mais esse escandaloso exemplo da violência que atinge as grandes cidades brasileiras. Mas a presença de crianças entre as vítimas dos disparos revela não apenas um total desprezo pela vida humana, mas uma clara crença na impunidade da parte dos responsáveis por essa terrível ação criminosa.
Levantamento da Folha publicado no último domingo mostra que, das 18 chacinas ocorridas em 1994 na Grande São Paulo e já esclarecidas, apenas três tiveram seus autores condenados. Esse quadro deve-se, basicamente, à lentidão da Justiça e à precariedade das investigações.
Especialistas apontam um claro círculo vicioso: sabendo do alto grau de impunidade, as testemunhas se calam, criando assim mais obstáculos à identificação dos culpados. A promíscua relação entre matadores -lamentavelmente identificados por parte da população como "justiceiros"- e moradores também dificulta a solução desses crimes. Aproveitando o grande vácuo deixado pelas autoridades, bandidos se apresentam como benfeitores enquanto seguem aterrorizando os cidadãos.
A dependência de depoimentos de testemunhas -ameaçadas de morte e sem proteção do Estado- torna ainda mais frágil o trabalho policial. Se conseguissem basear-se mais em evidências técnicas, os inquéritos certamente seriam muitos mais eficientes na busca dos culpados.
O poder público permanece atado às suas próprias deficiências na luta contra a proliferação das chacinas. Essa situação apenas deixa cada vez mais vulnerável a já desamparada população carente de São Paulo.

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