São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Aos sobreviventes, a Internet

CLÓVIS ROSSI

Davos, Suíça - Os governantes do planeta, reunidos para a edição 97 do Fórum Econômico Mundial, concluíram que o mundo goza de ótima saúde.
De fato, as estatísticas econômicas são no mínimo razoáveis: este ano, a economia mundial deve crescer 4%, o melhor registro dos anos 90.
É verdade que há outra estatística, bem mais sombria: segundo o novo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, "mais de 60% da população mundial tem que sobreviver com US$ 2 ou menos por dia".
Talvez por isso, os líderes façam a concessão de admitir que muita gente, em muitos países, têm medo da globalização e suas implicações (abertura econômica, liberdade comercial, privatizações, enxugamento do Estado).
Contra o medo, os governantes receitam explicar melhor que o processo de globalização será benéfico para todos no futuro.
Soa a um médico dizer ao paciente: "Vou ter que amputar a sua perna, mas, no futuro, você terá um belo aparelho eletrônico para substitui-la. Se sobreviver, é claro".
Perguntei ao senador Bill Bradley (democrata, EUA) se os governantes não se preocupam em amenizar a dor que causa toda revolução, como a globalização o é.
Bradley diz que sim, que há um "colchão" social possível. Seria formado por assistência médica, previdência e educação, mas educação durante toda a vida, para "equipar melhor o indivíduo para lidar com as transformações, em vez de vender-lhe a ilusão de que é possível parar as mudanças".
Perfeito, mas e o dinheiro para isso? A resposta é óbvia: "Ou se obriga o setor privado a pagar, o que lhe tiraria flexibilidade, ou o governo paga, o que faria aumentar os impostos".
Falta, diz Bradley, achar "a sabedoria política para um equilíbrio correto" entre tais fontes de recursos.
Acho mais fácil avisar de uma vez, à Machado de Assis: aos sobreviventes, a Internet.

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