São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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A casa de Collor

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Não é de hoje que a casa de um político vira notícia.
Em 82, quando Lula foi candidato ao governo de São Paulo, circularam panfletos apócrifos com uma foto da suposta "casa do Lula no Morumbi".
Não adiantava o petista negar. Já tinha colado. "O Lula? Esse tem casa no Morumbi e fica posando de operário", diziam os desinformados.
Depois, encrencaram com a casa em que Lula vive em São Bernardo, de um bom burguês seu amigo.
Mais recentemente, foi o apartamento de cobertura comprado por Lula no ABC que apareceu nos jornais.
No último fim-de-semana, havia um interesse quase geral pelo palácio no qual FHC ficou em Petrópolis.
Não adianta. A casa dos políticos fascina as pessoas.
Quem não se lembra da Casa da Dinda, a residência de Collor em Brasília, com sua cascata no jardim?
Agora, uma reportagem deliciosa no "Jornal Nacional" de sexta-feira mostrou uma casa com torneiras de ouro e uma cascata. Seria de Collor.
Foi o suficiente para que o ex-presidente desencadeasse uma operação-abafa. No sábado de manhã, recebi no telefone celular uma chamada do assessor de Collor em Miami.
"Isso é uma orquestração. A casa não é do presidente", disse o assessor. De quem é então? Não houve resposta.
Ontem, um Collor parecido ao político de olhos esbugalhados do impeachment deu uma entrevista, aos berros, para a rádio "CBN".
Imitou Jânio Quadros. Chamou de "mocinha" a jornalista que fez a reportagem sobre sua suposta casa. Para seus adversários reservou outros termos do vocabulário janista: "energúmenos" e "lepidópteros".
Como se estivesse em um palanque imaginário, Collor berrou sem parar na "CBN". Só não explicou o que todos querem saber. Onde arruma tanto dinheiro para viver como um sultão nos Estados Unidos? Esse é o mistério.
Quando o assunto estava para ser abordado, o ex-presidente mostrou todo o seu apreço pela democracia: bateu o telefone. Na cara dos ouvintes.

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