São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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A vaga de Callado

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Recebo o telefonema de Antônio Olinto que me comunica o que eu já sabia: ele é candidato à vaga de Antonio Callado na Academia. Pergunta-me se também entrarei na jogada, alguns amigos consideram-me candidato a essa vaga que ainda nem foi oficialmente aberta. Digo que nunca fui candidato a nada, a não ser ao altar de Deus -ao mesmo altar que Olinto também já foi.
E digo mais: se dependesse de mim, ele já seria acadêmico há muito tempo. Não há escritor com mais de 50 anos nas costas que não tenha em algum canto de suas estantes e de sua memória uma resenha de Olinto. Durante 20 anos foi o mais respeitado colunista literário do país. Além do noticiário miúdo dos livros e autores, uma vez por semana ele enchia duas colunas com uma apreciação crítica -e todos lhe devemos um reparo ou um incentivo.
Em 1959, ele reuniu esses textos em livro ("Cadernos de Crítica", Livraria José Olympio Editora). Ao lado de autores já estabilizados, como Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Jorge de Lima, Cecília Meireles, lá estão os estreantes, gente que começava, e temos os primeiros livros do próprio Callado, de Mário Palmério, Fernando Sabino, Gustavo Corção, Otto Lara Resende, Dalton Trevisan, J.J. Veiga, Clarice Lispector, Campos de Carvalho, Dalcídio Jurandir, dos poetas concretistas. Foi dele a primeira resenha de meu primeiro romance -que no volume ficou entre Octavio de Faria e Jorge Amado.
Olinto é também romancista. E poeta igualmente, sendo esta a sua origem literária. Lembro uma crônica sua sobre a multidão convocada para assistir a final da Copa do Mundo de 1950. É um dos melhores textos que já li -e creio ter lido muito.
O romancista e o poeta são apreciados subjetivamente. O trabalhador intelectual é mensurável objetivamente. Antônio Olinto será uma honra para a Academia.

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