São Paulo, quarta-feira, 5 de fevereiro de 1997
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Grupo À Fleur de Peau estréia novo espetáculo em Paris

Brasileira Denise Namura mostra 'Pendant Que j'y Pense'

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A brasileira Denise Namura é um dos talentos que a nova dança francesa vem revelando. Radicada na França desde 1981, Denise dirige com o alemão Michael Bugdahn o grupo À Fleur de Peau, que inicia hoje temporada em Paris, no Théâtre Dunois.
Junto com Bugdahn, Denise desenvolve uma linguagem cuja originalidade já conquistou a admiração de Maguy Marin, uma das coreógrafas mais importantes da atualidade.
Depois de conhecer o trabalho do grupo À Fleur de Peau, fundado por Denise e Bugdahn em 1986, Marin cedeu seu próprio estúdio (um enorme espaço subvencionado pelo governo francês) para a companhia ensaiar seus espetáculos.
O mais novo deles, "Pendant Que j'y Pense", estréia hoje na cidade de Paris, depois de ser lançado em setembro passado na Bienal Internacional da Dança de Lyon (França).
Sofisticação
No último mês de novembro, o espetáculo "Pendant Que j'y Pense" realizou uma temporada-relâmpago em São Paulo, depois de ser apresentado em algumas cidades do interior do Estado, a convite do Sesc.
Contudo, pode-se dizer que a coreografia do À Fleur de Peau permanece inédita na cidade, uma vez que sua real dimensão não pôde ser mostrada no acanhado palco do Sesc Ipiranga.
Com uma sofisticação feita de sutilezas, "Pendant Que j'y Pense" exige um espaço cênico capaz de acolher os vários ambientes de uma ampla biblioteca, onde personagens desenvolvem um inventivo e bem-humorado embate entre corpo e mente.
Apesar do visual despojado, que inclui o belo desenho de luz criado por Luc Petit, a cenografia desse espetáculo depende de uma infra-estrutura técnica que nem sempre está disponível nos teatros brasileiros.
Motivos como esses ainda não permitiram que "Pendant Que j'y Pense" ganhasse uma real temporada em São Paulo que, no entanto, pode receber o grupo ainda este ano.
"Estamos realizando contatos que podem concretizar essa possibilidade", conta a coreógrafa Denise Namura, que nos próximos meses deve apresentar "Pendant Que j'y Pense" na Noruega, Índia e Holanda.
Vínculo com Brasil
Disposta a não se desligar de seu país natal, Denise tem planos de realizar um espetáculo com intérpretes escolhidos no Brasil a partir de um workshop realizado previamente no país.
Tal produção fugiria da configuração habitual do elenco do À Fleur de Peau, que além de Denise Namura e Michael Bugdahn conta com mais dois intérpretes, o brasileiro André Curti e a francesa Fanny Tirel.
Síntese de diversas linguagens, os espetáculos do grupo exigem do elenco versatilidade para fundir, com perfeição, os recursos do teatro e da dança.
"Pendant Que j'y Pense" é resultado primoroso de tal proposta. Inspirando-se na dedução "Penso, logo existo", do filósofo René Descartes, mostra os conflitos e mal-entendidos de personagens às voltas com os labirintos de suas mentes.
Premiado na competição para coreógrafos realizada ano passado em Groningen, na Holanda, "Pendant Que j'y Pense" utiliza uma trilha sonora que inclui canções de Chico Buarque, Beatles, Arvo Pãrt, Nikos Mamangakis, Leo Ferré, além da voz gravada de Al Capone.

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