São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Ética, realismo e mágica

CLÓVIS ROSSI

Davos, Suíça - A edição 97 do Fórum Econômico Mundial terminou em tom de surpreendente valorização da ética. Surpreendente porque a audiência francamente majoritária no Fórum é de homens de negócios e políticos.
E sabe-se que, na política como nos negócios, há poucos anjos, se é que há algum.
O Fórum decidiu elaborar uma Declaração das Responsabilidades Humanas.
"A globalização requer uma ética global", explica o teólogo Hans Küng, um dos encarregados de preparar o esboço para exame da edição 98 do Fórum.
Completa Patrick Glynn, especialista norte-americano em assuntos internacionais e coordenador da iniciativa: "Em meio a todos os conflitos morais do mundo de hoje, há uma tremenda fome pelo consenso. Há também um crescente reconhecimento de que uma globalização bem sucedida requer padrões mínimos de moralidade e responsabilidade".
Nada contra a moralidade e a ética. Mas não consigo desvincular a iniciativa da pergunta que alguém (foi Napoleão?) fez ao ser advertido pelo papa: "Quantos exércitos têm o papa?".
Hoje, a pergunta seria: "Quantas ações têm em seu portfolio Hans Küng, Patrick Glynn e demais membros da comissão que preparará o código de responsabilidades?".
Em todo o caso, para que não me acusem de insensibilidade ética ou moral, reproduzo piada contada durante o Fórum deste ano por Michael Novak, responsável pelo setor de religião e política pública de um instituto de pesquisa norte-americano.
É assim: perguntam ao papa qual a solução para os problemas do mundo. "Há a solução realista e a solução mágica", responde o papa. "A realista é Cristo descer à Terra e ajeitar tudo", completa o pontífice.
Ansiosos, os interlocutores indagam qual seria, então, a solução mágica. "Todos os seres humanos cooperarem entre si", responde o papa.

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