São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Passou, mas bateu na trave

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O governo ganhou ontem, mas foi por pouco que Michel Temer (PMDB-SP) não teve de disputar a eleição para presidente da Câmara em segundo turno.
Temer teve 257 votos. Até minutos antes da votação os governistas falavam em obter entre 320 e 350 votos.
Os adversários não foram massacrados. Acabaram tendo mais apoio do que o governo esperava. Wilson Campos (PSDB-PE) recebeu 119 votos. Prisco Viana (PPB-BA) teve 111.
A eleição de Temer permite as seguintes conclusões:
1) a oposição na Câmara é grande. A soma dos votos dos candidatos de oposição mais os nulos e brancos resulta em 247 deputados. São apenas dez a menos do número de votos recebidos por Michel Temer;
2) o governo blefou feio na eleição de Temer. Na noite anterior, Inocêncio Oliveira (PFL-PE) havia dito o seguinte: "A interpretação do regimento (considerando maioria absoluta a maioria dos deputados presentes na Câmara) era só quando não tínhamos certeza de vitória. Agora, sabemos que vamos ganhar com folga";
3) Temer começa seu mandato com uma Câmara dividida. Conseguiu só o número justo de votos para se eleger em primeiro turno, observada a interpretação ortodoxa do regimento -de que só se elegeria em primeiro turno o candidato que obtivesse 50% mais um dos 513 votos da Câmara;
4) não será fácil FHC tocar todas as reformas constitucionais que pretende neste ano.
Para uma emenda passar são necessários 308 votos. Os votos dos candidatos de oposição ontem demonstram que o governo terá de gastar muita saliva para convencer esse grupo.
Por último, vale registrar aqui que Michel Temer parece não concordar com o axioma criado por seu antecessor, de que "uma oligarquia de vez em quando faz bem".
Para o bem do país, Temer terá dois anos para pôr em prática o que prometeu ontem em seu discurso: "Independência e autonomia do Poder Legislativo". A conferir.

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