São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997 |
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Itamar Assumpção apresenta safra triste de canções
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
O que ele mostra, a princípio, parece um ensaio do que pode se tornar a nova coleção -de 20 inéditas mais duas já gravadas por Alzira Espíndola-, um primeiro teste para os próximos shows. Explica-se: Itamar fez-se acompanhar apenas por um violão, a que deu tratamento cool, quase sempre minimalista. O público não arrebatou concessões do artista -o violão não buscou empatia e as canções, desconhecidas, não se prestaram a truques para cair no agrado da platéia. Sempre conciso em elementos, o show até se aproximaria do monótono lá pelo meio, não fosse a nova lavra de letras e melodias (ainda mais ou menos secretas, esperando por arranjos de banda que as façam ser ressaltadas) que Itamar traz agora a público. A totalidade delas evidencia que sua obra encontra-se, aos mais de 15 anos de carreira, em pleno progresso. Muitas das novas canções revelam-se desenvolvimentos de idéias já lançadas anteriormente. "Pirex", por exemplo, é a ampliação de uns poucos versos de "Venha Até São Paulo" (93), que rima Pirex, Rolex, Durex e relax e resulta na poesia impagável de versos como "Relax não é fax, não" ou "Ser sex não é fax, não". "Cheia Demais" é nova composição em homenagem a São Paulo -a própria cidade vira personagem e tenta convencer o interlocutor a abandoná-la ("eu já estou cheia demais/ vá para outras capitais"). Em meio a rimas hilariantes (e passando por nonsense herdado de Jorge Ben, de rimar, por exemplo, chatice e Recife), chega à conclusão inesperada: "Quem quiser entrar no embalo/ que venha para mim, São Paulo"). Mas não são essas que predominam em "Tipo Exportação", legítimo show de fossa. O violão chora e Itamar faz-se mais próximo que nunca do blues, às vezes do soul. Essa disposição ele já anuncia na segunda canção, "Pretobrás" (situada, em sintonia com a modernidade, "entre São Paulo e o mangue"). "Cantar estancou meu sangue", lamenta, para depois homenagear outro artífice da dor-de-cotovelo, Jards Macalé, citando sua "Negra Melodia" (77) no verso "samba is another bag". É o clima que se sustenta em músicas como "Dor Elegante" (feita sobre poema de Paulo Leminski), "Eu Tenho Medo", "Visita Suicida" e as novas obras-primas "Tudo ou Nada" e "Por Que Eu Não Pensei Nisso Antes?". Bem, em meio a tanta novidade, até há arestas -músicas como "Bota Ordem no Progresso" ou "Não É por Aí" não fazem jus ao melhor Itamar, e nem se pode comparar show tão despojado à riqueza de "Bicho de Sete Cabeças", que ele dividia com a banda feminina Orquídeas. Mas, seja como for, é chance de ouvir o que tem a dizer no calor da hora -sem pot-pourris- uma das figuras mais importantes da MPB contemporânea, que só a burrice das grandes gravadoras mantém longe do público. Esse disco você não vai ouvir tão cedo. Show: Tipo Exportação Artista: Itamar Assumpção Onde: Supremo Musical (r. Oscar Freire, 1.000, tel. 011/852-0950) Quando: hoje, às 22h; do dia 13 ao dia 15, às 22h, e dia 16, às 20h Texto Anterior: Vida e pós-vida no diário de Thomas Mann Próximo Texto: Scott Elliot exalta teatro comercial Índice |
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