São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Scott Elliot exalta teatro comercial

NELSON DE SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Saudado como "o melhor jovem novo diretor" do teatro americano pelo "New York Times", Scott Elliott chegou à Broadway nos últimos dois meses, com dois espetáculos que mostram ser ele um novo diretor de outra estirpe, nada do que se imaginaria, quanto à audácia cênica.
A sua estréia no teatro propriamente comercial foi com "Present Laughter", do inglês Noel Coward. Começa daí.
Coward é o maior autor de comédias de grande público, quase o oposto do teatro experimental e, particularmente em "Present Laughter", de 1943, algo ressentido com tal teatro (que está representado por um personagem algo ridículo, que Elliott expõe ainda mais, fazendo com que apareça inteiramente nu, em cena.)
Se o espetáculo serve como apresentação do diretor, é um manifesto de conservadorismo, até de reacionarismo.
O protagonista é o ator Garry Essendine, uma estrela do teatro de comédia, uma versão britânica de Procópio Ferreira. É idolatrado por todos à sua volta e apresentado como uma caricatura, muito engraçado.
Na primeira montagem, meio século atrás, foi interpretado pelo próprio Noel Coward. Agora, é feito por Frank Langella, em atuação arrebatadora.
Diante de um cenário suntuoso, "de época", com sofá, escadaria, biblioteca de dois andares, piano de cauda e muitas portas, como seria de esperar do que é "uma farsa francesa", na auto-ironia de Coward, Frank Langella alcança uma empatia e uma cumplicidade com a platéia poucas vezes vistas.
Recupera, sob a direção de Elliott, uma forma teatral que se imaginava desbotada -e que uma montagem recente de Coward em São Paulo, com Paulo Autran, parecia confirmar.
Frank Langella não teme vestir o personagem, talvez o personagem de si mesmo, talvez o de qualquer ator, que se deixa levar pela paixão e ao mesmo tempo pela frivolidade. Embarca em cenas de canastronismo consciente de que são hilariantes.
É sozinho o espetáculo, embora o elenco não esteja mal, pelo contrário, na sua composição de um grupo fechado de amigos unidos pela ironia e pelo parasitismo ao grande ator; uma das qualidades reconhecidas de Elliott, aliás, é o domínio de grandes elencos.
Mas o que "Present Laughter" tem de qualidade, em toda a sua exaltação do teatro comercial, em toda a sua descarada irresponsabilidade e futilidade, até com alguma audácia, por exemplo, ao sublinhar o homossexualismo, "Three Sisters" tem de desapontador.
É a segunda montagem de Scott Elliott na Broadway, com um elenco hollywoodiano encabeçado por Amy Irving e Jeanne Tripplehorn, respectivamente Olga e Masha, e Eric Stoltz, que faz Tuzenbach; um elenco que faz da platéia, o que é incomum, uma reunião hollywoodiana de atores e diretores.
Mas o clássico de Chekhov revela-se, ao menos por enquanto, um pouco além da capacidade do melhor jovem diretor.
Com uma interpretação trivial, realista na pior escola do cinema americano, o elenco torna os ricos diálogos e o abstracionismo do texto uma bobagem simplista -por vezes até moralista.
Ainda que vista em "preview", pré-estréia, não faz prever longa temporada. Nenhum personagem chega a ganhar forma e o espetáculo avança por três horas sem sair da superfície.

Texto Anterior: Itamar Assumpção apresenta safra triste de canções
Próximo Texto: Sam Shepard ganha quatro montagens de companhia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.