São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 1997
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Bioy fala do amigo Borges

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

Ao contrário do que se possa imaginar, o primeiro produto da parceria entre Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges foi uma publicidade para uma fazenda leiteira.
A primeira musa da dupla foi a estância "Martona", de propriedade da família Casares.
Borges e Bioy se conheceram em 1932, quando o primeiro tinha 33 anos e o segundo, 18. O cenário, a casa de Victoria Ocampo, fundadora da revista "Sur" e cunhada de Bioy.
O ano de 1914 é marcante para os dois. Nele, Bioy nasce e Borges viaja para Europa, onde permanece com sua família até os anos 20.
Anos depois, os dois escreveriam juntos vários livros sob o pseudônimo de H. Bustos Domecq, escritor fictício que ganhou cara e personalidade.
Para Borges e Bioy Casares, Bustos Domecq vivia no bairro de Concepción (oeste da cidade), era um gordo (1,75m de altura e 82 quilos), fanfarrão, casanova e supersticioso. Um emprego público e os ternos cinza finalizam o perfil de Bustos Domecq.
"Ele reúne todos os defeitos dos argentinos", afirma Bioy.
O escritor-personagem acabou extinto, mais por vontade de Borges que de Bioy.
Mas, por seu lado, Borges também cita Bioy Casares ao começo de seu famoso conto "Tln, Uqbar, Orbis Tertius".
A amizade dos dois escritores, porém, se interrompeu em 12 de junho de 1986, dois dias antes da morte de Borges.
"Ele me ligou da Suíça para se despedir. Apesar disso, sua morte me surpreendeu, como se colocássemos uma coisa tão horrível em um futuro distante. Mas a morte chegou", diz Bioy.
Quando fala do amigo, Bioy muda de expressão. "Quando penso em Borges, sinto um desconsolo. Tive a infinita sorte de desfrutar de sua amizade desde 1932. Parecia quase impossível viver sem ele. Nós éramos bastante diferentes, mas isso era perfeito."
(RB)

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