São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 1997
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Problemas econômicos permanecem sem solução

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

Apesar da solução temporária para a crise institucional no Equador, a crise econômica do país parece não ter fim próximo.
O maior problema é a falta de um ajuste fiscal nas contas públicas -paradoxalmente, o ajuste que Abdalá Bucaram tentou fazer aumentando impostos, o que foi o estopim da crise política.
Os aumentos atingiam em cheio os serviços públicos. As contas de um equatoriano subiram em média três vezes.
Um botijão de gás de 15 kg, por exemplo, custava 2.900 sucres (US$ 0,78) e passou a custar 10 mil sucres (US$ 2,70). Na semana passada, voltou a vigorar o preço antigo numa tentativa de Bucaram de ficar no cargo.
"O pior é que o ajuste é necessário. Estamos defasados, em alguns setores, em até 500%. Mas a população aparentemente não poderia suportar", diz o economista Manuel Ortíz.
Com a paralisia no país, estima-se que o déficit público chegue a 5% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas do país).
Receita argentina
A principal bandeira da reforma econômica pretendida pelo populista Bucaram era a conversibilidade do sucre, a moeda nacional. Ou seja, a adoção da dolarização ao estilo argentino, um paradigma para as incipientes democracias latino-americanas na década de 90.
A paridade dólar-sucre já tinha até data para entrar em vigor: 1º de julho deste ano. O plano foi alinhavado pelo próprio pai da dolarização argentina, o ex-ministro Domingo Cavallo, que para a tarefa embolsou US$ 500 mil, segundo a imprensa equatoriana.
Um dos únicos pontos consensuais da aliança de partidos que derrubou Bucaram é justamente a não-adoção da conversibilidade.
"Isso é correto porque a classe média equatoriana não tem reservas para suportar um estouro nos índices de desemprego como o que ocorreu na Argentina", diz Ortíz.
Nas áreas urbanas do Equador, 40% já está abaixo da linha de pobreza. A situação é mais crítica na área rural: 67% de pobres.
Queda de investimentos
A questão fica sem resposta imediata. "Não teremos também cortes no déficit público nem aceleração no processo de privatização do setor energético e de telecomunicações. Ajuste fiscal, nem pensar", afirma o economista.
Mais preocupante: a instabilidade política em um país que primava por ter 17 anos de regime democrático pode afetar a entrada de recursos externos.
Os sinais da desconfiança externa são visíveis. O valor dos títulos conversíveis da dívida externa equatoriana caiu 14% nas últimas duas semanas. É o pior rendimento da América Latina.
Um encontro chamado "Investir no Equador", que reuniria centenas de empresários norte-americanos no hotel nova-iorquino Waldorf Astoria no dia 14, foi cancelado. Os EUA respondem por 45% do comércio exterior equatoriano.
(IG)

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