São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 1997
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Girafas e pizzas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Chego de viagem e encontro faxes desventrados da diabólica maquininha. Não adianta partir, ir para o diabo, a maquininha tritura e despeja mensagens, inundam o gabinete, são tiras enormes, mais ou menos desconexas, que me cobram isso ou aquilo.
Três mensagens me pedem que entre logo na Internet. Entre as maravilhas que me prometem, posso pedir pizzas e falar com o presidente Clinton a hora que quiser. É só saber o e-mail e pronto, posso fazer reserva num hotel em Melbourne -onde nunca pretendo ir- e ouvir uma piada do Woody Allen feita especialmente para mim.
Honestamente, e embora muito aprecie as piadas do Woody Allen e adore pizzas, continuo resistindo a esse intercâmbio eletrônico. Tudo o que me prometem de maravilhoso eu posso fazer pessoalmente ou por meio do telefone. E por mais que me considere solidário com a espécie humana, não tenho nenhuma curiosidade em saber o tempo no Alasca e a cotação do yen na Bolsa da Guatemala.
Já tenho informações desnecessárias demais. Sei o nome de todas as capitais da Europa, o nome dos afluentes da margem esquerda do rio Amazonas, o tamanho do Sol (1,3 milhão de vezes maior do que a Terra). Sei até como se processa a menstruação das girafas (acabei de ler um artigo sobre o palpitante assunto na cadeira de um barbeiro em Roma).
Nada disso me interessa e de nada disso poderei tirar virtude ou lucro. Pedir pizzas pela Internet pode ser interessante, mas não creio que melhore o sabor das mesmas. Quanto a conversar com o presidente Clinton, nada tenho a falar com ele e acredito sinceramente que ele nada tenha a falar comigo.
Vou continuar na minha. Outro dia, esbarrei num camarada que acabara de falar num celular. Pedi perdão, mas ele mandou que eu esperasse. Ligou para casa e comunicou à mulher que havia esbarrado num cara, já não se podia mais andar tranquilamente nas ruas. A mulher respondeu qualquer coisa e só então ele me perdoou.

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