São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Perugorría vai às aulas para fazer Vado

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

No Rio para protagonizar a versão cinematográfica do texto teatral "Navalha na Carne", de Plínio Marcos, o ator cubano Jorge Perugorría, 31, está enfrentando um dos maiores desafios de sua carreira: atuar em português.
"O mais difícil tem sido o português, porque é um texto muito bem escrito. É uma aventura poder transmitir toda a profundidade de um personagem em outra língua", afirma Perugorría.
O ator ganhou fama internacional ao interpretar um intelectual homossexual em "Morango e Chocolate", filme cubano premiado com o Urso de Prata do Festival de Berlim de 1994 e indicado para o Oscar 95 de melhor filme estrangeiro.
Estrelado por ele, pela atriz Vera Fischer e pelo ator Chico Diaz, "Navalha na Carne" deverá começar a ser rodado no próximo dia 25, em locações da cidade como os bairros da Lapa e Santa Teresa (no centro da cidade).
Para interpretar o cafetão Vado, que vive às turras com a prostituta Norma Sueli (Vera Fischer) e o homossexual Veludo (Chico Diaz), Perugorría vem tendo aulas diárias de português e de dança.
Pelas mãos do dançarino Carlinhos de Jesus, ele está não só aprendendo noções de passos de samba, mas do andar, do ritual da malandragem carioca. Jesus elogia o progresso do aluno, mas Perugorría confessa: "É difícil".
Construir um cafetão, que vive no submundo de uma cidade grande, tem sido um desafio diário para Perugorría. "O personagem se faz a cada dia. Vou trabalhando e construindo pouco a pouco as razões que movem o personagem."
Vado é um personagem violento, que coloca em discussão o machismo ainda presente no mundo e as agressões a mulheres e homossexuais.
Para Jorge Perugorría, interpretar Plínio Marcos é um prazer e também uma grande responsabilidade.
"É um texto duro, árido, difícil, em que estão muito bem representadas a marginalidade e a psicologia de cada personagem. E é um texto muito conhecido aqui. Gostaria de ter mais tempo para me preparar", lamenta.
Em maio do ano passado, quando começaram as negociações para que o ator viesse ao Rio para filmar "Navalha na Carne", Perugorría passou a achar "uma idéia maravilhosa" poder dar vida à discussão proposta pelo texto do dramaturgo.
"É uma metáfora sobre a opressão, sobretudo sobre as mulheres. É um problema que vivemos em todos os países que ainda têm uma sociedade machista." Ele, porém, não se considera machista. "Eu me considero macho, o que é distinto."
Mostrando-se surpreso com a pergunta, Jorge Perugorría nega os rumores de que esteja tendo um caso com a atriz Vera Fischer. "Não, em absoluto, Vera é apenas minha companheira de trabalho. Sou um homem casado, com três filhos", sorri.
Os rumores começaram no Carnaval, quando Vera desfilou no Sambódromo ao lado do ator cubano, chegando inclusive a dar-lhe uvas na boca. Jorge Perugorría se mostra surpreso com o interesse da imprensa por sua vida privada.
Ele explica que, em Cuba, não se incentiva o glamour da profissão nem tampouco a imprensa invade a vida privada do ator. "As pessoas fazem cinema como se faz pão. Nosso único privilégio é trabalhar na profissão, que é fascinante", diz.
Uma profissão que, hoje, passa por momentos difíceis, devido ao bloqueio econômico dos EUA sobre Cuba. No ano passado, houve apenas uma produção cinematográfica no país.
"Em Cuba não se pode viver do salário de ator, é preciso se fazer algo mais. Minha sorte foi ter feito 'Morango e Chocolate' e ficar conhecido fora do país", diz. Depois do Rio, Perugorría parte para filmar na Espanha.

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