São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997 |
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A esperança não morre
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA Há quem duvide de que possa acontecer a recuperação de criminosos. Para muitos, com efeito, a cadeia é apenas um lugar de castigo pelas faltas cometidas. O maior empenho consiste em garantir a eficiência da detenção a fim de evitar fugas e eventuais outros atos criminosos.A Campanha da Fraternidade 1997 convoca-nos para uma reflexão ampla, à luz do Evangelho, lembrando-nos, também, o aspecto medicinal da pena e a confiança que devemos ter quanto à conversão profunda de que o preso é capaz se for devidamente auxiliado. Em Turim, tive a oportunidade de conhecer Pietro Cavallero, considerado, há 30 anos, um dos maiores criminosos da Itália. Cometeu, em Milão e outras cidades, repetidos assaltos a mão armada, alguns seguidos, infelizmente, de homicídios. Após um dramático tiroteio, a 3/10/1967, acabou sendo capturado. Condenado à prisão perpétua, passou por várias prisões, enfrentando a terrível violência das celas. Tudo isso é descrito por Ernesto Olivero no livro de seus diálogos com Pietro Cavallero. São páginas fascinantes que mostram a história do caminho interior percorrido pelo perigoso prisioneiro, seu arrependimento, a confissão de suas faltas e o anseio de expiá-las. A experiência de quem se arrepende não se restringe ao nível interno da própria consciência, mas abre-se aos outros ao perceber as consequências do mal causado. Depois de 22 anos de cárcere, veio o benefício da liberdade condicional. Cavallero recebeu licença de trabalhar na "Casa da Esperança", em Turim, mantida pelo Sermig (Servizio Missionario Giovani), fundado por Ernesto Olivero. Aí experimentou acolhida fraterna e paciente que permitiu, aos poucos, revelar-se um homem reconciliado com a vida, procurando fazer apenas o bem. Nos seus diálogos conta, com rara beleza, seu encontro com Deus. Durante os anos de prisão, Cavallero aprendeu a pintar e a comunicar pelo pincel e as cores seu caminho das trevas à luz. No dia 8/12/89, no meio de outros artistas, apresentou seus quadros e pediu que o fruto da venda fosse destinado aos projetos do Sermig para as crianças pobres do Brasil. "Assim", dizia, "poderei fazer algo de útil para reparar, ainda que em mínima parte, o mal cometido no passado." Adoeceu gravemente. Há poucos dias, no hospital, antes de falecer, a 28/1, escreveu uma bela carta a Ernesto Olivero e seus amigos, acolhendo a morte com serenidade e gratidão pelos que o auxiliaram a refazer sua vida. "Meu caminho foi longo. Pensava que entrar na prisão seria a morte para mim. Compreendi depois que estava começando a renascer para o bem. Aprendi que a esperança nunca morre mesmo para o maior pecador." Poucos meses antes, fez um esforço para ir até Milão. Desejava pedir perdão a todos pelos seus crimes e recebeu do cardeal Carlo Martini um gesto de bondade e compreensão que muito o confortou. Os livros e os quadros de Pietro Cavallero são um incentivo para que saibamos estender a mão aos que erram. Nesta Campanha da Quaresma-1997, sobre "a fraternidade e os encarcerados", a exemplo de Ernesto Olivero e seus colaboradores, procuremos ajudá-los, com amor, a encontrar a estrada da conversão e da paz. D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna. Texto Anterior: Paraísos artificiais Próximo Texto: Condições propícias Índice |
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