São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
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Marcha do MST tem apoio logístico da Igreja Católica

Sem-terra vão pernoitar em paróquias e receber alimentos

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A caminhada de protesto do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) rumo a Brasília tem o apoio logístico da Igreja Católica.
O apoio será traduzido em hospedagem em igrejas e casas paroquiais durante o trajeto.
Algumas paróquias também estão arrecadando alimentos para serem doados aos agricultores.
"Apoiamos a marcha porque seus objetivos são justos", diz d. Orlando Dotti, presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que cuida da questão agrária).
D. Dotti cita entre os objetivos da marcha que têm o apoio da CPT o "questionamento do modelo neoliberal, o protesto contra o desemprego e contra a demora na realização da reforma agrária".
Segundo o bispo, o governo FHC interrompeu a negociação sobre a reforma agrária com a Igreja. "Parece que ele tem todas as respostas e se fechou em si mesmo", disse.
Para José Rainha Jr., líder nacional do MST, o apoio da Igreja à caminhada é "natural": "O MST nasceu dentro da Igreja. Eu mesmo comecei minha atuação política na Pastoral da Juventude no Espírito Santo".
O grupo que saiu ontem de São Paulo, por exemplo, dorme a primeira noite na paróquia de São Domingos, no km 13 da rodovia Anhanguera.
Agentes
Segundo d. Dotti, agentes da CPT estão acompanhando os grupos de sem-terra que iniciaram a caminhada em vários Estados.
Esses agentes vão negociar com os padres das cidades por onde os sem-terra vão passar que tipo de apoio eles podem oferecer.
Segundo José Rainha, em algumas cidades o apoio das paróquias locais foi negociado com antecedência. "Fiquei impressionado com o apoio que estamos recebendo. Não deve faltar nada durante a caminhada", disse.
Papa
Rainha Jr. disse ontem que ficou "muito feliz" pelo fato de o papa João Paulo 2º ter pedido uma reforma agrária "dentro da lei" em encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O papa demonstrou que conhece mais o Brasil que o presidente", disse Rainha, para quem o pontífice "deu um puxão de orelha em FHC".
Segunda Rainha, o papa não se referia às invasões de terra promovidas pelo MST quando defendeu uma reforma agrária "dentro da lei": "Ocupar terras improdutivas não fere a lei", disse.

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