São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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O "condottieri"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Francisco de Oliveira, sociólogo do Cebrap, que já foi amigo de Fernando Henrique Cardoso, qualificou o presidente de "condottiero dos empresários", em entrevista à Folha.
Pecou apenas por excesso de palavras. FHC parece querer ser "condottiero" e ponto. Ou, se quiser, "condottiero di tutti", condutor de todos e não apenas dos empresários.
Quem tiver dúvidas, que preste atenção na gradação que o presidente estabeleceu para a oposição, em entrevista concedida em Roma.
Quando se está em uma ditadura, vale tudo, acha o presidente. Não disse, mas deve valer até a luta armada, posto que ele elogiou, no discurso para o papa, os religiosos brasileiros que se empenharam no restabelecimento da democracia. Muitos deles podem até não ter empunhado armas diretamente, mas foram do esquema de apoio da guerrilha.
Já quando se está em uma democracia, "ou as pessoas se comportam democraticamente ou ficam isoladas", prossegue a gradação presidencial.
Até aí, tudo bem. Uma ditadura pressupõe a quebra da regras do jogo, o que implica aceitar que quem a ela se opõe também viole as normas. E, na democracia, supõe-se que todos devam se comportar democraticamente, embora não seja tão pacífico assim determinar o que é ou não um comportamento democrático.
Por fim, o presidente receita que, "na democracia, se há um governo que quer resolver e dialogar e você joga pedra, em vez de dialogar, quem fica mal é quem joga pedra". Ou, especificamente, sobre o MST: "O ministro da Reforma Agrária faz o que pode, eles continuam com as invasões".
Traduzindo, objetivamente: quando há um governo, como o de FHC, que se acha "condottiero" de uma "revolução silenciosa", a oposição deve se contentar em esperar que o condutor resolva os problemas. Vira uma questão de fé, não mais de política.

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