São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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Com o apoio de FHC, PFL vence a 'guerra dos blocos'

DENISE MADUEÑO; DANIEL BRAMATTI; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PFL humilhou o PSDB e o PTB, com o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso e do ministro Sérgio Motta (Comunicações), e venceu a "guerra dos blocos" na Câmara dos Deputados.
O PSDB e o PTB queriam formar um bloco para se tornarem, juntos, a maior bancada da Câmara, com 116 deputados. Divulgaram a estratégia e negaram qualquer possibilidade de recuo. O PFL, que tem a maior bancada individual de deputados (104), era contra.
Numa reunião anteontem à noite, na casa de Motta, os líderes do PSDB e do PTB tiveram de recuar e dizer que não fariam mais o bloco.
A reunião foi tensa. Logo no início, o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), disse: "Eu não vim aqui para brigar. Mas, se é para ter briga, é para já". E completou: "Eu brigo no campo das idéias, mas aceito até luta corporal".
Inocêncio se dirigia ao líder do PSDB, José Aníbal (SP), com quem tem divergências antigas. Motta ajudou nas ameaças. Disse que FHC não queria a formação de blocos: se o PSDB insistisse, declarou que o presidente estaria "disposto até a romper com o partido".
Estavam presentes, além de Motta, Aníbal e Inocêncio, os líderes do PTB, Paulo Heslander (MG), do PMDB, Geddel Vieira Lima (BA), do governo, Benito Gama (PFL-BA), o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), o ministro Luiz Carlos Santos e o deputado Luís Eduardo (PFL-BA).
Exaltado, Inocêncio blefou, sugerindo que poderia até levar o PFL para a oposição. Disse que sua família "passou 30 anos na oposição" e que não teme essa situação.
Como forma de pressionar Aníbal, Luiz Carlos Santos afirmou que o bloco PSDB-PTB levaria o país à "ingovernabilidade".
Para sair do impasse, os líderes acertaram que os maiores partidos da base governista (PFL, PMDB e PSDB) não formarão blocos e terão tratamento igualitário na divisão dos principais cargos das comissões que analisam as reformas.
Telefonema a FHC
Sérgio Motta telefonou para o presidente Fernando Henrique Cardoso no meio da reunião.
"O Inocêncio fala dois minutos com o presidente e vocês ficam aí acreditando no que ele diz. Não tem nada disso de veto a blocos", dizia José Aníbal antes da reunião.
Por telefone, FHC falou com cada um dos presentes. Reiterou que não queria a formação de blocos. Depois da conversa, Aníbal já estava enquadrado. Para manter as aparências, o tucano e Heslander pediram para ser recebidos por FHC. O encontro ocorreu ontem.
A submissão de Aníbal provocou revolta no PSDB: "Partido calhorda. Posição subalterna. É vergonhoso que se ceda à chantagem de outros partidos", disse José Thomaz Nonô (AL), ao final da reunião da bancada. "Não sei quem errou mais, se José Aníbal ou o presidente", disse Domingos Leonelli (BA), que achou o recuo humilhante.
(DENISE MADUEÑO, DANIEL BRAMATTI e FERNANDO RODRIGUES)

LEIA EDITORIAL sobre a base governista no Congresso à pág. 1-2

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