São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC liquida treze corretoras e dois bancos

DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central (BC) liquidou, ontem, 14 empresas que teriam cometido graves irregularidades na intermediação de compra e venda de títulos no mercado financeiro.
O anúncio da liquidação foi feito no final da manhã pelo presidente do BC, Gustavo Loyola, e pelo diretor de Fiscalização do BC, Claudio Mauch. No meio da tarde o mercado recebeu a informação pelo BC que a décima-quinta empresa era liquidada.
Trata-se da corretora Sheck, que acabou fechada por ser do mesmo grupo do banco e da distribuidora Maxi-Divisa. Entre as demais empresas, há dois bancos, duas corretoras e dez distribuidoras.
CPI precipitou medida
A decisão do BC foi precipitada por depoimentos tomados pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado que investiga a emissão e negociação de títulos públicos, nesta semana.
Na noite de quarta-feira, o dono da IBF Factoring, Ibrahim Borges Filho, informou que, pelo menos, cinco empresas pertenciam a um esquema de lavagem de dinheiro. São elas: Negocial, Split, Olímpia, Ativação e o banco Maxi-Divisa -todas liquidadas ontem.
A IBF é uma empresa "laranja", usada para fazer desaparecer cerca de R$ 100 milhões nesse esquema, segundo Borges Filho. Esse foi o lucro que a IBF registrou apesar de ter capital de só R$ 10.000.
Mas Loyola afirma que o BC já vinha apurando várias irregularidades havia bastante tempo.
"Essas infrações envolvem vários tipos de operações e em função dessas investigações do BC nós resolvemos decretar a liquidação das empresas", disse Loyola.
Com isso, o presidente do BC traça uma linha para tentar explicar todo o imbroglio. Na verdade, a história inclui duas vertentes diferentes, que em alguns momentos se cruzam:
1) O BC iniciou em meados do ano passado a investigação de operações que chamaram atenção da fiscalização por se tratarem de empresas pequenas demais, segundo Claudio Mauch, para o volume de recursos que movimentavam.
2) O Senado resolveu criar uma CPI para investigar porque Estados como Santa Catarina haviam sido autorizados a emitir títulos para o pagamento de precatórios muito acima do valor das dívidas judiciais que devia pagar.
Segundo Loyola, a partir de investigações rotineiras, o BC teve de fazer um grande rastreamento no sistema financeiro, de cheques, de títulos etc. E esse levantamento é muito demorado.
"O problema de uma investigação é que não se pode dizer nada enquanto não se consegue unir todas as pontas. Antes você tem que aprofundar esse tipo de investigação", disse o presidente do BC.
Loyola ressaltou que, com relação a algumas empresas agora liquidadas, o BC já havia adotado outras medidas, como processo administrativo e afastamento de administradores. Esse é o caso, por exemplo da Negocial, cujo sócio-diretor, Fábio Pazzanese, foi proibido de operar no mercado.
Basicamente, o crime dessas empresas era comprar e vender títulos com preços fora de mercado. Outras auferiram comissões fora do que seriam os valores razoáveis, disse Loyola.
Segundo o presidente do BC, essas informações foram prestadas à CPI quando do depoimento de diretores, no final do ano passado. A liquidação das empresas, segundo Loyola, são um passo adiante nessas investigações.
Bens indisponíveis
Os liquidantes do BC foram enviados às instituições e, desde ontem, os bens dos administradores dessas empresas estão indisponíveis (não podem ser vendidos).
A liquidação das empresas não soluciona o problema dos títulos e o eventual prejuízo causado ao erário público. As investigações ainda terão de continuar, provavelmente com a ajuda da Polícia Federal e da Receita Federal.
A culpa dos empresários e demais envolvidos só poderá ser determinada pela Justiça, mediante abertura de processo. Isso caberá ao Ministério Público, num momento mais avançado.
Os senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e Vilson Kleinubing (PFL-SC), que estiveram ontem no BC, em São Paulo, acreditam que houve participação também de funcionários e administradores públicos no esquema que teria desviado R$ 6 bilhões.

LEIA EDITORIAL sobre a CPI dos Precatórios à pág. 1-2

Texto Anterior: Governo incluiu dívidas resultantes de acordos
Próximo Texto: Empresa se diz vítima de "violência inominável"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.