São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
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Lúcia Murat leva humor

PAULA DIEHL
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM BERLIM

"Doces Poderes", filme da diretora Lúcia Murat, traz uma balanceada dose de crítica e humor a Berlim. Integrante da mostra Forum do festival, o filme faz uma análise do Brasil durante as eleições presidenciais e governamentais de 1990 e pretende retratar os bastidores das campanhas políticas.
Com Marisa Orth e Antônio Fagundes nos papéis principais, "Doces Poderes" conta as histórias de vários protagonistas do meio político e da imprensa.
O filme apresenta os conflitos e os prazeres do poder, mostrando seus personagens sempre de um ponto de vista pessoal.
Para a diretora, "não há maniqueísmos" em seu filme, pois "todos concedem". "Nós vivemos nesse mundo de concessões", acrescenta. "Não há nenhum personagem inteiramente limpo."
Em um contexto democrático, "as coisas ficam muito confusas", explica Lúcia. "Você passa a interrogar tudo. A experiência da democracia sai do preto-e-branco da ditadura e se torna uma experiência totalmente cinza em que ninguém mais é herói."
O filme partiu de um choque, como diz a diretora, de um susto.
"Eu estava no exterior, e quando volto para o Brasil simplesmente vejo uma boa parte dos meus amigos jornalistas fazendo campanhas nos mais variados estados para as figuras mais espúrias possíveis", afirma.
"Nesse momento pensei em fazer um filme que mostrasse como essa crise, que ao mesmo tempo tem esse aspecto universal que é a quebra da utopia e da perda de perspectiva, se dava num país chamado Brasil," diz a diretora.
Amigos
A diretora começou entrevistando amigos e profissionais da área que trabalharam durante e com a campanha política.
"A idéia do filme em si era ter um background, uma situação em que você demonstrasse a sensação de impotência em que as pessoas vão ficando dentro do seu trabalho, dentro do seu jornal", explica.
"Doces Poderes" aborda principalmente a questão do deslocamento da realidade produzido pelo aparato da mídia política, mas não esquece a dimensão pessoal dos indivíduos em seus atos.
"O poder tem muito de imaginário. Cada um esbarra no limite das ilusões", fala a voz em off de Marisa Orth.
Apesar de não achar que esse seja um tipo de problemática específico do jornalismo, Murat pretende levantar questões sobre noção de ética e responsabilidade dentro e fora do jornalismo.
Segundo ela, "Doces Poderes" tem por objetivo levantar discussões sobre a perda da ética na sociedade brasileira. Na opinião da diretora, "por mais que você escamoteie, você, ser humano, está sempre fazendo opções".
Para realizar "Doces Poderes" a diretora gastou apenas US$ 500 mil, e todos os atores trabalharam de graça.

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