São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
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Filhos devem adotar um comportamento discreto

TERESA POOLE
DO "THE INDEPENDENT", EM PEQUIM

Enquanto o imperador estava vivo, seus filhos se aproveitaram ao máximo das oportunidades disponíveis para a primeira família da China, seja garantindo chances atrativas de negócios ou vendendo obras de arte para colecionadores que provavelmente compraram caros quadros da filha de Deng pensando em estabelecer proveitosos canais de comunicação.
Mas agora que Deng está morto seus cinco filhos terão de ter mais cuidado se quiserem manter os privilégios a que tiveram direito por serem "príncipes" -nome dado aos filhos dos altos dirigentes comunistas chineses.
Nos últimos anos da vida de Deng, foram seus filhos e sua mulher, Zhuo Lin, que, se não propriamente exerceram o poder por trás de seu trono, ao menos controlaram aqueles que ultrapassavam a barreira da antecâmara.
Na maior parte dos anos 90, sua filha favorita, Deng Rong, trabalhou como sua secretária particular, acompanhando-o em público a fim de traduzir seu forte sotaque de Sichuan para o chinês tradicional e para transmitir os comentários de seus interlocutores para seus quase surdos ouvidos.
Em algumas ocasiões, membros da família Deng se encontraram próximos do escândalo. O marido de Deng Rong é He Ping, que se viu em maus lençóis quando, no ano passado, o grupo China Poly, no qual ele ocupava uma alta posição, foi ligado a um contrabando de armas chinesas para os EUA.
Um dos filhos de Deng, Deng Zhifang, abandonou em 1995 importante cargo na subsidiária em Hong Kong de uma grande empresa chinesa, a Shougang, depois que o presidente da subsidiária foi preso acusado de corrupção.
E o filho mais velho, Deng Pufang, que está numa cadeira de rodas desde que pulou de uma janela durante a Revolução Cultural quando era perseguido por guardas do Exército chinês, viu sua empresa de investimentos Kang Hua fechada em 1980 sob acusações de extorsão e de atividades comerciais ilegais. Desde então, ele dedica seu tempo ao trabalho pelos deficientes na China.
Deng Lin, a artista e mais velha filha de Deng, afastou-se da política e dos negócios para se dedicar às suas pinturas, e suas obras obtiveram considerável popularidade, bem como altos preços.
Seu marido, Wu Jianchang, não viu qualquer empecilho em seu laço matrimonial para construir um pequeno império em Hong Kong, controlando três subsidiárias de uma mineradora estatal.
O mais abertamente político dos filhos de Deng é Deng Nan, uma física que ocupa o cargo de vice-ministra da Comissão de Ciência e Tecnologia.
O ressentimento entre os chineses comuns é grande contra os privilégios dos "príncipes". No momento, para resguardar a unidade e a estabilidade, os líderes chineses não parecem dispostos a atacar abertamente os filhos do patriarca, mas exigirão que eles se tornem mais discretos e não atrapalhem a estratégia para a transição.

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