São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Iniciativa divide opinião de especialistas

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa de informatização de escolas públicas do governo federal divide as opiniões dos educadores.
Alguns o consideram imprescindível para a melhoria de ensino no Brasil, um investimento sem o qual o país não conseguirá dar um salto no futuro.
"Essa iniciativa do Ministério da Educação é ótima", afirma o americano Fredric Litto, 58, coordenador científico da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP), laboratório criado há 8 anos para pesquisar o uso de novas tecnologias de comunicação na educação.
Para Litto, ainda que apenas 20% dos alunos aos quais se destinam os micros realmente aprendam a operar as máquinas, o investimento de quase R$ 500 milhões terá sido válido.
Mais críticos do projeto, outros educadores dizem que investir maciçamente em computadores só trará benefícios para os alunos se, ao mesmo tempo, os professores forem reciclados e melhor remunerados -e não apenas treinados para usar um micro.
"Comprar computadores para as escolas é a maneira mais fácil de o governo dizer que está fazendo alguma coisa pelo ensino", afirma o professor de filosofia da educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Eduardo Chaves, 54, especialista na utilização da informática para fins didáticos.
Para Chaves, o principal problema do professor da rede pública não é a falta de familiaridade com um computador.
Mas a falta de ter o que dizer em classe. "Se o professor, sem o micro já não dá uma boa aula, não vai ser o computador que vai resolver esse problema", diz Chaves.
Habilitações
Ninguém é contra a presença do computador ao lado do quadro-negro. Nem que o governo gaste algum dinheiro para equipar as escolas.
O que alguns educadores temem é que haja muitos micros para poucos professores e alunos habilitados a operá-los. Ou ainda que a reforma do ensino público se limite a ensinar professores e alunos a mexer num computador.
"A informática não pode ser encarada como a solução de todos os problemas da educação pública", afirma Mario Sergio Cortella, ex-secretário municipal de Educação na gestão de Luiza Erundida.
A grande dúvida dos especialistas é como os computadores serão usados nas escolas públicas.
Há quem defenda que os micros não devam ser utilizados com a exclusiva pretensão de revolucionar o ensino das matérias escolares, mas basicamente na tarefa de familiarizar os alunos com a informática.

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