São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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'Arrastão' se inspira em sucesso indígena

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Antropólogos observaram que as tribos mais organizadas e vencedoras eram aquelas que melhor cuidavam de suas crianças. Elas sabiam que o futuro da tribo dependia do seus meninos e meninas. Se crescessem bem e tivessem boa saúde, seriam bons guerreiros e os melhores caçadores."
Demóstenes Romano Filho, um dos "militantes" da ONG Pacto de Minas Pela Educação, cita os antropólogos para justificar sua preocupação com as crianças.
Em dois anos, o Pacto já percorreu 14 cidades e três bairros de Belo Horizonte buscando crianças que estavam fora da escola ou vinham tendo um desempenho ruim.
Na entrada dessas cidades, o visitante encontrará placas identificando que o "arrastão cívico" passou por ali. "Você já está em Itapeva, onde a comunidade se orgulha por não ter nenhuma criança de 7 a 14 anos fora da escola", diz uma faixa na rodovia Fernão Dias, no sul de Minas.
Identificadas as crianças, o Pacto providencia as matrículas. Centros de apoio permanente são montados nos bairros, de forma que a criança passe um período na escola e no outro seja acompanhada.
"A criança que está fora da escola ou vai mal na aula forma o script do fracasso de amanhã, da droga, da violência. E isso vai ocorrer em todas as classes sociais", diz.
Dança
Em Fortaleza, duas irmãs dançarinas trocaram o projeto de uma escola profissional pelo desafio de reunir meninas dos bairros mais miseráveis da cidade. Ana Cláudia de Araujo e Dora Andrade fundaram a Edisca, Escola de Dança e Integração Social.
Além do balé, as meninas aprendem artes plásticas, têm acompanhamento médico e psicológico e recebem reforço alimentar. "Não temos nenhum caso de gravidez, nem drogas nem prostituição entre as meninas", diz Ana Cláudia.
Um espetáculo encenado pelo grupo, "Jangurussu", vem sendo apresentado há mais de um ano em várias capitais.
"As ONGs são mais ágeis, mais criativas e eficientes. São formadas por gente que querem fazer alguma coisa. Os programas do governo são burocráticos." O grupo é apoiado pelo governo do Estado e pelo Instituto Ayrton Senna.
Em Ouro Preto (MG), o dentista Aluízio Drummond, 51, já cuidou da boca de 1.600 crianças desde que fundou o Projeto Sorria, em 1993. "O governo está se ausentando de suas responsabilidades e a saúde está virando um caos", diz. "A maioria dos dentistas, no entanto, continua tapando buracos e ganhando dinheiro."
Drummond dedicou-se a criar unidades para tratar os dentes de crianças pobres e a ensiná-las a evitar as cáries.
(AB)

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