São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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'Mães' garantem tratamento anticâncer

DA REPORTAGEM LOCAL

Trabalho voluntário. Essa é a expressão-chave para entender como é feito o tratamento de crianças carentes com câncer em São Paulo.
Só assim se explica como a A.A.C.C. (Associação de Apoio à Criança com Câncer) consegue, com R$ 10 mil, dar hospedagem, alimentação, transporte, lazer, educação e lazer, de graça e sem dinheiro público, para 300 crianças todo mês.
É esse também o "x" da equação que permite à Sociedade Pró-Hope manter 36 leitos para crianças e acompanhantes e dar serviços semelhantes em uma espaçosa casa na Vila Mariana (zona sul) com R$ 30 mil mensais.
As duas entidades, chamadas de casas de apoio, não dão tratamento médico às crianças. Dão, sim, suporte para que elas possam ficar em São Paulo com um acompanhante pelo tempo que for necessário para se tratar.
Em alguns casos, o suporte inclui escola, para que as crianças não se atrasem nos estudos, e acompanhamento psicológico.
Como na maioria das entidades assistenciais do gênero, a A.A.C.C. e a Pró-Hope nasceram da vontade de poucas pessoas e foram aos poucos aglomerando outros voluntários ao seu redor.
Wanir Leão Cavalcanti Rotta, 43, "mãe" da A.A.C.C., se envolveu com o assunto depois que seu filho Tiago, 4, morreu vítima de leucemia.
"Ele foi operado nos EUA. E lá conhecemos uma entidade que prestava toda a assistência. Quis retribuir e eles disseram que eu fizesse o mesmo aqui no Brasil."
Tiago morreu no início de 84. No mesmo ano, surgiu a A.A.C.C.. Aos poucos, a entidade foi ganhando corpo e hoje hospeda crianças por até um ano.
É o caso de Cristiany Fernandes dos Santos, 15. Maranhense de Bacabau, Cristiany teve uma perna amputada e um pulmão operado por causa de tumores.
Na escola, apresentou as provas feitas na A.A.C.C. e descobriu que é a primeira da classe, embora tenha estado um ano e um mês longe de seu colégio.
"É que o ensino aqui é individualizado", diz Aparecida Mar, 55, professora da A.A.C.C. "O mais importante, no entanto, é que enquanto as crianças estão estudando estão com o pensamento longe da doença."
Na Pró-Hope, essa função é cumprida, com sucesso, por trabalhos artísticos desenvolvidos com as crianças.
"Recentemente tivemos uma criança que chegou à mesa de cirurgia em um estado psicológico e físico tão bom que o médico que a acompanhava disse que se não fosse o nosso trabalho ela não teria resistido à operação", diz Cláudia Bonfiglioli.
Cláudia, 38, é uma das "mães" da Pró-Hope. Mas, ao contrário de outras "matriarcas" de entidades assistenciais, não teve um familiar doente.
Envolveu-se com o câncer infantil trabalhando no Hospital do Câncer. Hoje, dedica seu tempo livre à entidade.
Entre outras conquistas, a Pró-Hope orgulha-se de ter uma psicóloga em tempo integral, o que ajuda a reduzir o estrese causado pelas circunstâncias que envolvem a doença e as dificuldades financeiras das famílias atendidas.

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