São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo do Brasil é contra aumento de juros do BID

VALDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Proposta será discutida para aumentar recursos para países pobres Governo do
Brasil é contra aumento de juros do BID
O governo brasileiro é contra a proposta de aumento da taxa de juros do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), um dos pontos da pauta de discussões da assembléia anual do banco que acontecerá em março na Espanha.
A elevação da taxa de juros foi proposta pelos países desenvolvidos para arrecadar recursos para os países mais pobres da América Latina e Caribe -Bolívia, Haiti, Honduras, Guiana e Nicarágua.
Esses países recebem empréstimos altamente subsidiados do BID por meio do FOE (Fundo de Operações de Especiais). As taxas de juros são de no máximo 2% ao ano, prazo de pagamento de até 40 anos e carência de dez anos.
O presidente do BID, Enrique Iglesias, disse que a proposta a ser discutida é o aumento do spread (taxa de risco) cobrado nos empréstimos aos 26 países latino-americanos e caribenhos. O spread hoje é de 0,5%.
Segundo Iglesias, a taxa de juros média dos empréstimos poderia passar dos atuais 6,7% para cerca de 6,8% a 6,9%. "Os juros do BID continuariam sendo subsidiados, mesmo com um aumento dos custos de financiamento", afirmou o presidente do banco.
Interesses
O governo brasileiro não aprova o aumento dos juros por considerar que essa proposta atende apenas aos interesses dos países desenvolvidos que fazem parte do organismo.
Estados Unidos, Japão e os países europeus não querem destinar mais recursos para o FOE, alegando que estão enfrentando resistências em seus parlamentos à liberação de mais dinheiro para países pobres.
O Brasil vai comunicar, na assembléia anual do banco, que é favorável ao aumento dos recursos destinados aos cinco países mais pobres da região, desde que todos os membros do BID participem do esforço.
A proposta brasileira é que todos os 46 países-membros contribuam proporcionalmente à sua participação no capital do banco. Por essa proposta, a maior contribuição viria dos Estados Unidos, que detêm 30% do capital do BID.
Acionistas
O Brasil é o segundo maior acionista, com 11%. O Japão tem 5%. Dos 46 países que integram o BID, 26 são considerados mutuários, ou seja, recebem empréstimos do banco. Os demais participam do capital, uma das fontes de recursos do banco.
As estimativas do BID indicam que, para atender as necessidades de financiamento dos países mais pobres nos próximos anos, os recursos do FOE precisam aumentar em pelo menos US$ 1 bilhão.
O próprio presidente do BID, Enrique Iglesias, reconhece que o tema é polêmico. Segundo ele, o aumento das taxas de juros começará a ser discutido na Espanha, mas a assembléia anual não deve tomar nenhuma decisão sobre o assunto.
Uma definição sobre a proposta pode ocorrer apenas na reunião dos governadores do BID que acontecerá em junho, na sede da instituição em Washington (Estados Unidos).

O jornalista Valdo Cruz viajou a convite do BID

Texto Anterior: Governo japonês faz jogo imobiliário
Próximo Texto: O risco do autoritarismo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.