São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Ballard, o cruel

CÁSSIO STARLING CARLOS
DA REDAÇÃO

Para quem só conhece o Ballard pintado em cores róseas por Spielberg em "Império do Sol" -baseado nas memórias de infância do escritor- "Crash - Estranhos Prazeres" é uma cacetada.
As atrocidades testemunhadas pelo pequeno Ballard em campos de concentração japoneses durante a Segunda Guerra alimentaram o imaginário perverso que o escritor desenvolveu em sua obra.
Sem meias-tintas, Ballard narra aqui um mundo estranhamente parecido com nosso presente.
Com todas as sofisticadas formas de conforto desenvolvidas pelo homem, os indivíduos partem em busca de novas modalidades de estímulo, capazes de simular necessidades perdidas para sempre.
Uma cena mostra o casal de protagonistas, Ballard e Catherine, assistindo noticiários de TV com imagens de violência, a fim de criar uma excitação adicional para seus jogos sexuais tediosos.
O futuro de Ballard não é o império da máquina, como o de Arthur C. Clarke. Para ele, o futuro é a simbiose do homem com a tecnologia, a dependência de objetos banais como os computadores.
A violência que se espalha a cada página lembra "Laranja Mecânica" de Burgess, mas a moral de Ballard é menos imediata.
A estetização da brutalidade produz uma apreensão mais matizada do mal, mais elaborada que a simples repulsa. A beleza faz com que, ao fechar as páginas, o leitor descubra que cruel é o mundo que o cerca.

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