São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Transplantes de '3ª idade' são testados

USA Today
de Arlington

MARYLIN ELIAS

George Balding, dono de uma próspera firma de eletrônica em Salt Lake City e inventor de 27 produtos, recusou-se a aceitar o veredicto dado por seu hospital local: "Vá para casa morrer -você está velho demais para fazer um transplante de coração".
Balding acabava de completar 65 anos. É justamente nessa idade que os candidatos a um transplante no Programa de Transplantes Cardíacos de Utah perdem o direito a um novo coração. Os médicos lhe davam apenas seis meses de vida.
Mas o empresário, que se casou tarde e tem cinco filhos, recebeu outra proposta: uma intrigante oferta da Universidade de Califórnia em Los Angeles (UCLA). A proposta era que esperasse numa lista alternativa de pacientes mais velhos que se dispõem a aceitar um coração de um doador com mais de 50 anos. Esses corações geralmente não são transplantados, ou precisam de "reparos", como pontes de safena.
Balding, que hoje é um homem saudável de 68 anos, não pensou duas vezes. Hoje, ele trabalha, cuida dos filhos e diz: "Curto cada dia da minha vida".
Custo e benefício
Lançado há cinco anos, o programa pioneiro da UCLA já reuniu dados impressionantes relativos à sobrevivência de pacientes com mais de 65 anos que receberam corações que teriam sido recusados por outros hospitais.
Seus críticos duvidam de que a aposta ousada renda o suficiente, em termos de tempo adicional de sobrevivência, para justificar o custo de um transplante cardíaco (entre US$ 150 mil e US$ 250 mil).
Mas alguns outros centros estão lançando ou expandindo programas alternativos semelhantes.
Eles apostam na escassez cada vez maior de corações, à medida que os "baby boomers" (os nascidos imediatamente após a Segunda Guerra Mundial) ingressam na faixa etária em que a necessidade de um transplante é maior, mas o número de corações doados que são aceitos é cada vez menor.
Adultos com mais de 50 anos já formam a maioria dos pacientes que aguardam um coração, e a lista de espera aumentou de 1.722, em 1988, para 3.693, em 1994.
"A longo prazo, nas faixas etárias mais velhas, sai mais barato morrer do que submeter-se a um transplante", observa Laks, "porque quem faz um transplante corre o risco de voltar ao médico com complicações de longo prazo".
A geração dos "baby boomers" não é conhecida por aceitar estoicamente a realidade do envelhecimento. Depois de marcar recordes de cirurgias plásticas no rosto, lipoaspiração, transplantes de cabelo e reposição de quadris, por que os "baby boomers" hesitariam em fazer transplantes de coração?
"Há 30 anos, a pessoa chegava aos 70 estava acabada. Mas as pessoas que chegam aos 70 hoje dizem: 'Quero viajar, quero jogar golfe'", diz Laks.
Acrescenta, porém, que nem todos os que sofrem de uma doença cardíaca em estágio terminal devem trocar de coração. O programa da UCLA só faz transplantes em pacientes mais velhos quando estes não sofrem de qualquer outra doença séria e têm todos os órgãos saudáveis.
Em cinco anos, a UCLA transplantou 27 corações "reformados" em pacientes mais velhos. Foram 11 só em 1996. Por enquanto seus médicos só dispõem do índice de sobrevivência relativo aos últimos três anos -78%, igual ao índice de sobrevivência de pacientes transplantados mais jovens.

Tradução de Clara Allain

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