São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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COMÉRCIO É POLÍTICA

Parece confirmada a decisão do governo federal de não criar um ministério específico para cuidar do comércio exterior. Do ponto de vista administrativo, é até bom que não se crie mais um ministério. Entretanto, não se pode perder de vista que as carências e as inconsistências nessa área são bastante sérias e exigem mais ousadia e criatividade.
A solução, por enquanto, é deixar tudo como está, aparentemente reforçando as atribuições da Camex (Câmara de Comércio Exterior), ligada à Casa Civil da Presidência da República, ampliando suas funções de atendimento ao público externo. Mas é no mínimo ingênuo acreditar que as limitações da atual política comercial brasileira resultam apenas das dificuldades de "atendimento".
Quando um empresário não consegue extrair do governo informações coerentes, o problema não é de atendimento, mas de incongruência objetiva entre várias instâncias que se sobrepõem e, na prática, disputam espaços de poder não apenas na burocracia, mas na própria definição das diretrizes mais amplas do comércio exterior brasileiro.
O caráter político das resistências à criação de um ministério não será anulado com a decisão de deixar tudo como está. Se de fato há resistências, por exemplo, na Fazenda ou no Itamaraty, elas não são apenas à criação de uma instância de poder. São resistências corporativas, burocráticas que continuarão existindo com ou sem um novo ministério.
Se a Camex, no Palácio do Planalto, não resolveu até agora esses conflitos, parece no mínimo pueril esperar que a redução do problema a ineficiências de atendimento ao público permita avanços substantivos.
O comércio exterior é cada vez mais, na economia global, uma arena em que também se colocam importantes questões políticas. É preciso que, no Brasil, essas questões não fiquem reduzidas a apenas politicagem e conflitos palacianos.

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