São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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O pôquer de Covas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - É espantosa a mudança de humor do governador Mario Covas (PSDB-SP). O Covas de 1995 e parte de 1996 era um resmungão que olhava sempre para trás e amaldiçoava a amarga herança recebida dos antecessores.
O Covas deste início de 1997 parou de resmungar, olha para a frente e estufa o peito para falar das perspectivas de sua gestão nos dois anos restantes de mandato.
Covas sempre me deu a impressão de ser o adversário ideal em uma mesa de pôquer. É só olhar para o seu rosto e já se sabe se está com um par de setes ou uma quadra de ases na mão.
O novo Covas mostra uma face não digo de quadra, mas, ao menos, de uma trinca de valetes ou algo parecido. Não garante nada, mas basta para entrar no pôquer da sua própria sucessão com chances de ganhar (se a reeleição for definitivamente aprovada, é claro).
Mas o velho Covas resmungão reaparece sempre que o assunto é reeleição. Ele continua afirmando que não vai se candidatar. Só que o argumento que esgrime é de uma fragilidade tão espantosa quanto a sua mudança de humor.
O governador acha que, com reeleição, a campanha eleitoral terá como eixo o uso da máquina pública pelo governante de turno, em vez de girar em torno de sua obra, contraposta às bandeiras dos oposicionistas.
O uso da máquina, com maior ou menor descaramento, é uma prática universal. No Brasil, então, deve ter nascido junto com a feliz idéia de escolher governantes por meio do sufrágio direto e universal.
Vide, para ficar só em exemplos de São Paulo, os comportamentos de Orestes Quércia e Paulo Maluf nas suas próprias sucessões.
Se o argumento de Covas é apenas esse e se ele tem nas mãos a trinca que seu humor denuncia, não vai conseguir resistir por mais de cinco minutos à inevitável pressão do PSDB para que se candidate a um segundo mandato.

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