São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Oposição vai usar CPI para segurar emenda

RAQUEL ULHÔA

RAQUEL ULHÔA; DANIELA PINHEIRO; LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Governistas esperam terminar a votação da proposta de reeleição até maio sem alterar texto da Câmara

Perdida a batalha na Câmara, a oposição aposta agora no deslanche da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Títulos Públicos para tentar atrasar a tramitação da emenda da reeleição no Senado.
Na avaliação de líderes oposicionistas, caso o escândalo envolvendo a emissão de títulos públicos ganhe proporções ainda maiores, a votação da reeleição pelo plenário do Senado ficará prejudicada.
A comprovação do envolvimento de algum governador ou prefeito nas irregularidades apuradas pela CPI do Senado poderia afetar o relacionamento de partidos aliados com o governo federal. Isso abalaria a maioria de votos já garantida para a emenda.
"O escândalo da CPI é um mote a ser explorado para obstruir a reeleição. Hoje, as investigações ainda não influenciam o rumo da emenda, mas poderão contar muito", afirmou o líder do PT na Câmara, José Machado (SP).
Também agravaria a situação a possibilidade de uma eventual participação dos senadores nas irregularidades, já que a autorização para emissões de títulos para Estados e municípios é de responsabilidade do plenário do Senado.
"Ficaria complicado, pois seria uma comissão do Senado investigando histórias que a própria Casa estaria envolvida", argumentou o deputado Marcelo Déda (PT-SE).
Os líderes governistas no Senado estimam que a emenda da reeleição será aprovada pelo Senado, em dois turnos, até o mês de maio.
A maior preocupação tanto dos governistas como do Palácio do Planalto refere-se à quebra de sigilo telefônico dos envolvidos no escândalo dos títulos públicos.
Eles temem que a investigação das ligações telefônicas de grupos acusados de irregularidades na venda de títulos públicos revele contatos com governadores, prefeitos e até de senadores.
Nesse caso, eles avaliam que o envolvimento de governadores e senadores com doleiros e empresas que tinham lucros com a venda dos títulos poderia abalar a base governista no Senado e dificultar a aprovação da emenda da reeleição.
A investigação de contas bancárias poderá não ser conclusiva, avalia o governo, até porque parte do dinheiro poderá ter ido para o exterior. Mas as contas telefônicas fariam o elo de ligação entre governantes e empresas.
Contatos com doleiros na véspera do fechamento de um negócio com títulos, por exemplo, seria uma forte prova contra governadores. Ligações com senadores também comprometeriam.

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