São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Ovelha preocupa governos de EUA e Europa

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A ovelha replicante Dolly mexeu com os governos mais importantes do planeta. O presidente norte-americano, Bill Clinton, determinou que o Grupo de Aconselhamento Nacional sobre Bioética elabore em 90 dias um relatório sobre clonagem (duplicação de um ser vivo), lei e ética.
O secretário-geral do Conselho da Europa (um dos órgãos diretivos da União Européia), Daniel Tarschys, por sua vez, divulgou um comunicado chamado "Não à Clonagem de Seres Humanos", em que lança um apelo para tornar mais rígidas as leis bioéticas.
Na quinta-feira será publicado na revista "Nature" o trabalho de Ian Wilmut e equipe, do Instituto Roslin e da empresa PPL Therapeutics, com a ovelha clonada.
Dolly foi criada a partir da fusão de parte da célula sexual de uma ovelha adulta com o material genético da célula mamária de uma outra ovelha. Ela é uma cópia idêntica da segunda ovelha, um clone.
Para o ministro francês da Agricultura, Philippe Vasseur, a técnica escocesa pode possibilitar a criação de "monstros das fazendas", mesmo sob os rigores da legislação dos países europeus.
O ministro alemão da pesquisa e da ciência, Jürgen Rüttgers, disse que deve ser proibida a clonagem do homem, "uma criação única que não pode ser manipulada".
Clinton quer saber se humanos podem ser clonados e se são necessárias leis sobre o assunto, que hoje não existem nos EUA.
Em 1996, o presidente proibiu o uso de verbas federais em pesquisas com embriões humanos.
Segundo pesquisa divulgada ontem pela rede de TV ABC, 87% dos americanos acham que deveria ser proibida a clonagem de humanos.
Para 82% dos entrevistados a prática seria "moralmente errada" e 93% disseram que não querem ser replicados; 50% dos americanos desaprovam esse tipo de pesquisa, mas, no entanto, para 71% deles a clonagem de animais deveria ser permitida se fossem obtidos remédios por meio dela.
Wilmut, o cientista escocês que duplicou a ovelha, diz que não deixa de dormir por causa das possíveis implicações da técnica que inventou. Para ele, nenhum centro de pesquisa está próximo de replicar humanos.
"Para alguns cientistas, o que estamos fazendo é ciência pura", diz Wilmut. No entanto, seu grupo de trabalho é composto por pesquisadores de uma empresa, a PPL Therapeutics, que patenteou Dolly.
A empresa já criou animais geneticamente alterados para produzir proteínas humanas de uso médico.
Atualmente, a PPL pesquisa a produção, a partir de animais mutantes, de substâncias que naturalmente fazem parte do sangue e do leite humanos.

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