São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Cientistas discutem a ética do experimento

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS; DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas e personalidades ouvidos pela Folha se posicionaram ontem quanto ao experimento realizado pela equipe escocesa.
"Preocupo-me que outros avanços na ciência humana possam levar a outros meios de destruição em massa mais prontamente disponíveis do que as armas nucleares. A engenharia genética é uma área possível devido à sua terrível potencialidade", disse o Prêmio Nobel da Paz, Joseph Rotblat.
O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), diz que "todos têm direito ao útero". "Não sabemos as consequências da falta de convívio com o útero materno." Diz ainda que isso pode ser "um projeto masculino para criar uma reprodução sem a participação das mulheres" e que "elas devem ser chamadas para a discuti-lo".
O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Sérgio Ferreira, afirma que "está clonado o ser humano".
"Inventamos a pólvora, o avião e a bomba atômica. A ciência não resolve problemas éticos. Oferece a possibilidade de fazer coisas. A ética os resolve."
O neurobiólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ivan Izquierdo, não se surpreendeu com o experimento, para ele, mais um feito técnico do que uma revolução. "Isso foi feito agora, mas já havia a possibilidade teórica de fazê-lo há 20 anos. Não à toa a existência de filmes como 'Os Meninos do Brasil' já há tantos anos."
Para ele, a discussão em torno da pesquisa é um problema ético e não científico. "Um exemplo: o melhor veneno é o cloreto de potássio. A descoberta de que a substância poderia matar não foi, em si, antiética, benigna ou maligna, é um feito técnico. O uso das descobertas é que pode ser antiético."
Laymert Garcia, pesquisador da Universidade de Campinas na área de sociologia da tecnologia, diz que "vemos as questões da biotecnologia com os parâmetros do passado, mas ela os rompeu. O passado é colocado em questão."

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