São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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TERRA E POLÍTICA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não nasceu no vazio. Existe um grave problema fundiário no Brasil. Por isso, a organização gozou de simpatia e tolerância em setores da opinião pública, na ilusão de que a entrega de terra aos sem-terra ajudaria a reduzir o problema do inchaço das cidades.
Mas, especialmente no caso do Pontal do Paranapanema (SP), o MST está rapidamente deixando de ser instrumento de mobilização para ajudar a solucionar um problema real e se transformando em um grupo de ação puramente político.
O governo paulista alega ter encontrado 1.200 famílias à espera de assentamento, quando assumiu, há dois anos. Diz ter assentado não 1.200, mas 1.500 famílias. Não obstante, ainda segundo a administração estadual, surgiram outras 1.200 em busca de novos pedaços de terra. Se os dados forem corretos, está se criando um círculo de ferro: quanto mais o governo assentar, mais candidatos a assentamentos surgirão.
Acresce notar que o governo federal também tem atuado na área fundiária, numa direção que o bom senso indica ser a mais correta e viável, qual seja modificando as alíquotas do ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural) de maneira a punir, pecuniariamente, os proprietários de terras improdutivas. Conseguiu também alterar a legislação, aprovando o chamado "rito sumário" para o julgamento de desapropriações.
Tais mudanças, no entanto, não foram capazes de modificar o comportamento do MST, que, ao contrário, parece empenhado em substituir o Estado, correndo à frente de toda e qualquer providência que este venha a adotar. O movimento que nasceu apoiado nas carências de uma sociedade claramente desigual está comprometendo, de forma talvez irreversível, sua legitimidade.
Com isso, o MST perde o apelo à solidariedade para com os mais fracos, que diz representar. Passa a enfrentar o aumento da violência ou a prisão de seus líderes, riscos inerentes à disposição de desrespeitar a lei em nome de um objetivo político.

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