São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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O Ipea e o bode

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O jornal "Gazeta Mercantil" resume, em sua edição de segunda-feira, estudo do Ipea sobre distribuição e desigualdade de renda no Brasil. Conclusão: melhorou muito pouco, quase nada, no período pós-Plano Real.
Ipea é a sigla de Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, um banco de cérebros do Ministério do Planejamento. Não se trata, portanto, de um braço do PT, da CUT ou do MST.
O estudo, extremamente detalhado, dinamita o ufanismo "tucano" a respeito dos efeitos mágicos da estabilização sobre a grande chaga nacional que é a obscena desigualdade na distribuição da renda entre brasileiros.
No fundo, comprova-se o que já foi dito neste espaço: a derrubada da inflação significou apenas retirar de uma sala apertada e esburacada o bode da superinflação. Voltou-se ao ponto anterior, ou seja, a uma sala esburacada e apertada. Ótimo que tenha diminuído o aperto e que tenha sido eliminado o mau cheiro deixado pelo bode. Ótimo, mas insuficiente.
O problema tem raízes históricas, que vêm da colonização, passam pela tardia eliminação da escravatura e terminam com o caráter predatório das elites brasileiras. Seria ingenuidade (ou pura propaganda) acreditar que a simples estabilização da economia bastaria para resolvê-lo ou, ao menos, atenuá-lo.
O estudo do Ipea põe ênfase na educação como fonte básica da desigualdade, tese, de resto, recorrente em trabalhos sobre o tema, no próprio Brasil ou no exterior.
Há no ar uma sensação, algo difusa, de que a única área social do atual governo que mais ou menos funciona é o Ministério da Educação. Ainda assim, o que foi feito ou planejado até agora nem remotamente basta para configurar o indispensável "choque educacional" que o país necessita.
Por isso, na batida em que vai o governo, outros estudos como o do Ipea serão divulgados, nos próximos anos, com idênticas e tristes conclusões.

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