São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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PM tenta impedir garotos de pular do calçadão no Rio

Mulher diz que filho não foi orientado sobre o perigo

DA SUCURSAL DO RIO

Para evitar mais acidentes, o comandante do 23º BPM (Batalhão de Polícia Militar), coronel Francisco de Paula Araújo, determinou que os policiais não permitam que os jovens pulem do calçadão. Em caso de desobediência, a ordem é prendê-los.
Segundo o salva-vidas Joel Benvindo, quando avisa do perigo, os jovens não obedecem, mergulham e ainda o desacatam.
A pedagoga aposentada Gilda de Oliveira Bohrer, mãe do estudante Flávio, 16, que morreu após mergulhar no Arpoador e quebrar a quinta vértebra, disse que os salva-vidas nada fizeram para orientá-lo sobre o perigo do local.
Além disso, Gilda disse que Joel Benvindo mentiu ao afirmar que ajudou a resgatar seu filho, após o acidente. Flávio mergulhou no mar, perto do paredão do Arpoador, e bateu com a cabeça na areia.
Segundo Gilda, o filho foi resgatado do mar por um surfista, que o colocou em sua prancha. O acidente ocorreu no sábado de Carnaval.
Gilda disse que seu filho era muito estudioso e maduro para a sua idade. Ele teria decidido pular no Arpoador ao ver outros garotos mergulhando. "Se ele tivesse sido orientado para o perigo, não teria pulado", afirmou.
Filho único de Gilda e de um empresário, morando com a mãe em Laranjeiras (zona sul do Rio), Flávio era nadador do Fluminense, jogava basquete, tocava piano e tinha um sonho: estudar economia em uma faculdade de Sydney, na Austrália.
Ferimentos
"Descendo na pororoca", o estudante Paulo Henrique Paiva, 15, já cortou o pé. Seu amigo, João Ricardo Cugola da Silva, 14, além do pé, ralou o joelho. Mas os ferimentos não os desencorajam a arriscar a vida no mergulho do calçadão.
"A gente não tem medo. Pular daqui -do calçadão- é a maior emoção", disse Paiva.
Desde o início do verão, eles praticam a nova mania. "A gente pula do calçadão para a onda e da onda de volta para o calçadão", diz Cugola da Silva.
Nem a presença policial ou dos salva-vidas os intimida. Os rapazes acham que pular do calçadão é prova de coragem.
Quem não se arrisca, segundo eles, é covarde ou não tem intimidade com o mar.
"Eu pulo direto daqui -do calçadão. É muito melhor. Dá para dar 'mortal' -mergulho de cabeça", disse o estudante Daniel Santana Pinto, 12, que quase todo dia sai de Mesquita (Baixada Fluminense), para praticar a modalidade no Arpoador.

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