São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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César sem causa

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - De duas, uma: ou uma fatia da intelectualidade brasileira sabe ou intui coisas que os pobres mortais não estamos conseguindo ver, ou há no ambiente uma falsa "malaise".
Refiro-me aos sucessivos textos atribuindo ou antevendo intuitos "cesaristas" no presidente Fernando Henrique Cardoso. Começou com o sociólogo Francisco de Oliveira, do Cebrap, passou, ontem, pelo artigo de Roberto Romano na Folha e teve seu momento mais, digamos, espetacular com o "déspota esclarecido" utilizado por José Arthur Giannotti, que soma ao prestígio acadêmico o fato de ser amigo do rei.
Com perdão do jargão, não estão à vista as condições objetivas para qualquer tipo de aventura do gênero, para não mencionar o fato de que ela não combinaria com a biografia de FHC.
Não há "subversão", o pretexto mais comumente utilizado para atropelar as instituições. Nem há oposição digna do nome, quanto mais subversão, que é uma espécie de estado paroxístico de uma oposição desesperada.
Não há, igualmente, contrapeso algum ao poder do Executivo. O Congresso virou mero tabelionato de reconhecimento de firma. É só o governo mandar um papel qualquer para o Congresso para que o papel dele saia carimbado.
Na mídia, a que se atribui (a meu ver equivocadamente) o papel de Quarto Poder, é muito maior o número de adeptos de FHC, faça o que fizer, do que o de seus críticos.
No lado econômico, o cenário parece igualmente tranquilo. Há, é verdade, desemprego e subemprego, mas são custos que, ao menos por enquanto, não ameaçam os benefícios gerados pela estabilização dos preços sobre a imagem de FHC.
Quebrar as regras do jogo, quando se está ganhando de goleada, soaria a puro delírio. Não obstante, os últimos 20 ou 30 dias viram nascer uma safra de textos mais ou menos com o mesmo vetor, o da tentação autoritária. Por quê?

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