São Paulo, sábado, 1 de março de 1997
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Morador de rua tem 'mordomia' no 1º dia

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Morador de rua tem mordomia no 1º dia
Sem-teto iniciaram ontem novo trabalho
O baiano Orlando Basílio dos Reis, 34, e o sergipano João de Jesus, 44, os dois primeiros frequentadores de albergue contratados para trabalhar na limpeza da cidade, começaram ontem como varredores da CBPO, na zona leste da cidade.
A nova realidade de ambos se apresentou um pouco 'cor-de-rosa' ontem. Os dois foram levados por um carro da empresa para o local de trabalho, mordomia que não terão nos próximos dias de batente.
Os dois se apresentaram, às 6h, na garagem da CBPO, em Itaquera, e bateram ponto.
Às 7h, já colaboravam na limpeza da Estrada do Imperador, com 3,7 km de extensão. Às 11h, tiveram uma hora para almoço.
Enquanto comia, Jesus reclamou do assédio da imprensa. "Já cansei de falar hoje", disse.
Ele comeu um prato de picadinho, arroz, feijão e salada. Reis, linguiça calabresa com ovo frito e os mesmos complementos. Para beber, duas tubaínas.
João de Jesus diz que tem um sítio na cidade de Esplanada (BA), onde a mulher Julia cultiva mandioca e cuida de um pomar. Ele reclamou do uso do termo mendigo para designar os moradores de albergues.
"Estava desempregado, optei pelo albergue para não ficar na rua. Não sou mendigo, estou pegando pesado."
Jesus, que vai ganhar R$ 255,20, diz que já chegou a receber R$ 1.000, como vigia de obra, no passado, mas que não vai esmorecer porque ganhará menos.
"Pelo menos estou vivendo honestamente", disse Jesus, que pretende enviar dinheiro todo mês para a mulher e os filhos.
Reis, que é solteiro, pretende economizar o dinheiro para poder arrumar os dentes. "Vou colocar duas pontes novas."
Só não sabia se ía a um dentista particular, aos planos odontológicos da empresa ou o do sindicato da categoria, o Siemaco, ao qual se filiou ontem.

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