São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Real causa 'boom' dos 'disque-entulho'

CLAUDIA GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O aquecimento da construção civil gerado pelo Plano Real é o grande responsável pela proliferação, na Grande São Paulo, dos "disque-entulho" -empresas que coletam restos de obras e reformas, como pedras, madeira e terra.
Hoje estima-se que existam cerca de 200 empresas trabalhando com coleta de entulho na capital paulista -80% delas têm menos de um ano de vida.
"Quem antes colocava seu dinheiro na poupança, agora está preferindo trocar o piso de casa", diz Alexandre Vieira Cardoso, gerente da Lixotal, uma das empresas do ramo.
Cardoso conta que, de 95 para 96, seu faturamento mensal médio dobrou, passando de R$ 30 mil para R$ 60 mil.
O aumento dessas empresas também é facilmente identificável nas ruas da cidade: caçambas lotadas de entulho são "estacionadas" junto ao meio-fio ou em cima das calçadas e já se tornaram parte da paisagem.
Como a maioria dos "disque-entulho" são clandestinos e ainda não há uma lei que regulamente a atividade em São Paulo é impossível precisar quantas empresas atuam hoje no mercado.
Mas um termômetro confiável para medir o "boom" do negócio são os fabricantes que produzem as caçambas estacionárias e os poliguindastes, equipamentos necessários para a coleta de entulho -além, é claro, do caminhão.
Uma delas, a Metal Leme, aumentou sua produção em 231,8% de 95 para 96. A metalúrgica, que só trabalha sob encomenda, entregou 730 caçambas em 96, contra as 220 vendidas em 95. Para 97, a meta é chegar a mil caçambas.
"Quando há qualquer retomada na economia, a primeira indústria a crescer é a da construção civil", analisa Abelardo Anacleto, da Olifel Representações (empresa responsável pela comercialização dos produtos Metal Leme).
E a coleta de entulho tem uma vantagem a mais para quem está de olho nesse mercado: é um serviço de utilidade pública que não é prestado pela Prefeitura de São Paulo.
A Obra Limpa, que atua na região do ABC, entrou na coleta de entulho há dois anos e viu os negócios engordarem rapidamente no ano passado: seu movimento aumentou 50% em relação a 95.
"Acredito que o ramo cresceu 300% de dois anos para cá", conta Vitor Fernandes de Oliveira, da Rodolixo -cujo carro-chefe é o lixo industrial e não o entulho. Nesse período, a Rodolixo ampliou em 60% o número de caçambas utilizadas para carregar os restos de obras.
Mas há pontos negativos. Luiz de Oliveira, proprietário da Remotec, prevê que haverá um estrangulamento desse mercado no prazo máximo de um ano.
"Por ser um negócio novo e não ter regulamentação nenhuma, houve um crescimento desordenado. E isso vai fazer com que as empresas comecem a demitir e a vender seus equipamentos daqui a pouco", diz.
O consumidor, nesse caso, seria o maior beneficiado. O estrangulamento citado por Oliveira já ocorreu em cidades como Curitiba e Santos e reduziu os preços das coletas em até 60%.

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