São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Empresas devem derrubar amadorismo

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Rolim Adolfo Amaro, presidente da TAM Linha Aérea Regional, empresa que já chegou a patrocinar regularmente três times (São Paulo, Atlético Mineiro e 15 Novembro, de Piracicaba), além de contribuir com muitos outros, está saindo do futebol.
"Eu acho que a estrutura do futebol no Brasil rejeita a presença de alguém com os meus princípios" disse ele à Folha. O comandante Rolim, como é conhecido, reconhece que a sua empresa teve retorno de imagem com o futebol.
Mas, segundo ele, os acertos por fora e as dificuldades dos clubes em modernizar a sua estrutura administrativa são incompatíveis com as necessidades de empresas com boa imagem e eficientes.
Para Rolim, clubes e dirigentes de federação que não querem a modernização do futebol, porque ela representaria o fim de boa parte do seus privilégios, articulam-se para isolar quem se recusa a participar da velha e viciada estrutura.
Para o economista e professor Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, um apaixonado pelo futebol, "a organização da CBF como uma reunião de federações estaduais, é um grande obstáculo para se fazer modificações importantes nos torneios. As federações tiram o seu poder e o seu prestígio dos torneios e campeonatos regionais, que hoje é uma coisa obsoleta".
Para ele, a Lei Zico, de 1993, apesar de muito modificada, contempla um ponto importante: se aplicada, ela daria um peso maior para os clubes frente o imenso poder atual das federações.
Essa seria uma mudança politica importante. A segunda mudança seria interna aos clubes que, segundo Belluzzo, será inevitável.
"O esporte é hoje um dos setores do entretenimento no qual o faturamento mais cresce. E as empresas vão inevitavelmente entrar nesse setor", diz ele.
"A resistência dos clubes à mudanças está fadada a ser inútil. É o 'ancien régime', que dizem que durou até a Primeira Guerra mundial, resistindo ao avanço das forças criadas pela revolução industrial e pela Revolução Francesa. Como que os clubes, dirigidos com critérios de clubes de várzea, poderão sobreviver aos valores e as conexões que essas empresas trazem?", diz o economista.
Pressão externa
Para o ex-presidente da Bolsa de Mercadorias e Futuro de São Paulo, Eduardo Rocha Azevedo, um dos quatro integrantes do Grupo de Apoio à Presidência do Corinthians, a mudança nos times virá com a participação de empresas patrocinadores e de grupos de empresários e a profissionalização na gestão do departamento de futebol profissional dos clubes.
Ele chega a dizer que, a longo prazo, não é impossível se pensar em times com ações nas Bolsas de Valores, como está ocorrendo em alguns países da Europa.
"Mais para a frente, poderá funcionar. Antes é preciso fazer essa divisão e transformar o futebol profissional dos times em empresa. No Brasil, por pressões políticas e por causa da legislação, ainda vai demorar mais tempo"', diz ele.
"O mundo descobriu o negócio da diversão e dentro da diversão o futebol é o espetáculo com maior apelo", afirma Azevedo.
Para José Carlos Brunoro, o homem que veio do vôlei para gerenciar a política da italiana Parmalat no futebol brasileiro, essa modalidade é a melhor para se investir dentro da cesta de opções que o esporte oferece no país.
Ele defende um programa de transição que seria desenvolvido ao longo de três anos e que colocaria o país, no ano 2000, em uma nova era do seu futebol.
Em primeiro lugar, Brunoro acha que os clubes deveriam ser obrigados a respeitar rigorosamente as competições oficiais. "Ao aceitar jogar em uma série de torneios promocionais, para fazer caixa, os clubes despersonalizam os campeonatos oficiais", diz.
Em segundo lugar, ele defende uma fiscalização externa na contabilidade dos clubes, por um órgão a ser criado. Segundo Brunoro, é fundamental saber o quanto um clube dispõe de orçamento. "Um clube só poderá gastar dentro da sua realidade, para não criar essas dívidas monstruosas", afirma.
Ele é favorável ao enquadramento dos clubes nas três modalidade previstas pela Lei Zico (A - transformar-se em sociedade comercial com finalidade desportiva; B - constituir sociedade comercial com finalidade desportiva, controlando a maioria de seu capital com direito a voto; C - contratar sociedade comercial para gerir suas atividades esportivas).
Regulamentação
Ele acha que o patrocínio deve ser regulamentado. Brunoro diz que é prejudicial para a identidade do futebol a mudança no nome dos times, para incorporar o nome do patrocinador -como algumas empresas estão tentando.
Para o homem que cuida do futebol na Parmalat, os contratos de jogadores deveriam ser por temporada. "No meio do percurso, acaba o contrato de alguns jogadores, e isso é prejudicial para os times. No Brasil, ficou impossível tirar uma foto oficial do time. Eu já tive que mudar a cara de jogadores no computador", conta.
Brunoro é a favor da manutenção dos torneios regionais, pela tradição e "por eles serem excelentes formadores de jogadores". Mas acha que os regionais deveriam ocupar, no máximo, 16 datas do calendário de uma temporada.
Na opinião de Brunoro, o Brasileiro, com quatro divisões, ocuparia mais datas e deveria ser disputado todos os anos com um mesmo regulamento. Ele diz que o calendário deveria evitar encavalar jogos dos campeonatos com as datas de jogos da seleção brasileira.
Ele também considera a internacionalização do calendário uma tendência inevitável e acha que os campeonatos oficiais deveriam ser valorizados como classificatórios para competições internacionais.
Brunoro prefere que os classificados para a Libertadores sejam o primeiro e segundo colocados do Campeonato Brasileiro (eliminando a vaga da Copa do Brasil).
Ele acha também que os clubes deveriam realizar, no máximo, 70 jogos por temporada.
Para Brunoro, os direitos de televisão do Campeonato Nacional deveriam ser negociados conjuntamente para as séries A e B, como uma maneira de valorizar a última.
Nessa transição até o próximo século, ele defende um caderno de intenções para adequar os estádios às exigências mais modernas.
Brunoro quer também uma Liga Nacional, mas só para gerir os interesses econômicos dos clubes. A organização do campeonato continuaria a cargo da CBF (que discutira o calendário com a Liga).

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