São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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OS NEOFRANCESES

São inegáveis as dificuldades, em todo o mundo, para oferecer ao problema do desemprego soluções que permitam, no mínimo, torná-lo um pouco menos dramático do que já é. Em alguns casos, o artificialismo de certas tentativas de deter o mal parece infelizmente beirar o desespero.
À primeira vista, esse parece ser o caso do projeto de lei antiimigração preparado pelo Ministério do Interior da França, aprovado pelos deputados da Assembléia Nacional e que agora será submetido aos senadores.
Vários artigos, de caráter extremamente restritivo aos estrangeiros, sobretudo os de países que não pertencem à União Européia, vêm provocando, com boa parcela de razão, fortes reações junto a intelectuais, artistas e setores de classe média.
Ao mesmo tempo, pesquisa de opinião feita para o "Libération" mostra que 59% dos franceses aceitam algumas medidas restritivas. A aprovação na Assembléia Nacional já conta, pois, com razoável respaldo popular. Há, porém, algumas indicações de que um controle mais rígido sobre os fluxos imigratórios teria poucos efeitos práticos na discussão do desemprego na França, cuja taxa atual é de 12% da população ativa.
A porcentagem dos estrangeiros que vivem em território francês com a situação regularizada manteve-se praticamente estável nos últimos anos, e o número de imigrantes permanentes (os que ficam no país por pelo menos um ano) diminuiu cerca de 15% de 94 a 95. Na comparação entre 94 e 93, essa queda já havia sido de nada menos que 30%.
Além disso, o desemprego vem atingindo mais os próprios estrangeiros do que os franceses, o que, aliás, era de se esperar, dada a baixa qualificação profissional de boa parte dessa "mão-de-obra invasora".
Ao que tudo indica, não serão alguns artifícios legais que, também entre os franceses, permitirão contornar os efeitos socialmente danosos do desemprego. Sobretudo quando permeados, infelizmente, por inclinações à xenofobia.

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