São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Robin Hood às avessas

VALDO CRUZ

Brasília - Robin Hood, como todo mundo sabe, costumava tirar dos ricos para dar aos pobres. Ao seu estilo, na Inglaterra medieval, ele fazia uma espécie de distribuição de renda.
Pois bem, os Estados Unidos, às vésperas do século 21, estão querendo dar uma de Robin Hood às avessas.
O governo norte-americano, com o apoio do Japão e dos países europeus, quer aumentar os juros dos empréstimos concedidos pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) aos países da América Latina e do Caribe.
A cobrança extra iria para um fundo do BID, destinado a empréstimos altamente subsidiados para os cinco países mais pobres da região.
Ou seja, o objetivo é tirar de quem não tem muito -como Brasil, Argentina e México- e destinar para quem não possui quase nada -Honduras, Bolívia, Haiti, Guiana e Nicarágua.
Já os mais ricos, como Estados Unidos e Japão, fechariam seus cofres.
A proposta será apresentada neste mês na assembléia anual do BID, organismo que tem como um dos objetivos auxiliar no desenvolvimento de países da América Latina e do Caribe.
O governo brasileiro, naturalmente, não apóia a proposta norte-americana.
Afinal, os Estados Unidos querem transferir para os países em desenvolvimento da América Latina o papel de financiador dos mais pobres.
O Brasil até aceita integrar o esforço de auxiliar os mais carentes da região, mas exige que os norte-americanos também participem -como faziam até agora.
Afinal, os Estados Unidos detêm a maior parcela do capital do BID, com 30% das ações do banco. O Brasil vem em seguida, com 11%.
A posição norte-americana no BID é apenas mais um exemplo da política dos países ricos em relação aos em desenvolvimento. Querem somente ditar regras para os primos pobres.
Como está acontecendo no comércio mundial. Repletos de barreiras comerciais, os países ricos vivem pressionando os demais a escancararem seus mercados.

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