São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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O Rio nunca fica pronto

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não dá para entender -ou entende-se demais. As obras do Rio Cidade, que deram ao ex-prefeito Cesar Maia a popularidade para fazer seu sucessor, foram simples armação eleitoral de um lado e grossa bandalheira de outro.
Os consertos estão desconsertados, os buracos mal tapados tornaram-se crateras, calçadas e meios-fios novamente abriram feridas na carne das ruas. O carioca passou dois anos suportando andaimes e congestionamentos na esperança de ter parte da cidade alinhada e limpa.
Sabia-se que havia superfaturamento nos postes e serviços, mas imaginava-se que houvesse um mínimo de competência operacional. Nem precisa entrar no aspecto estético. Contratando decoradores de vitrine que se passam por arquitetos, o ex-prefeito patrocinou monstrengos que entopem alguns dos logradouros mais congestionados do Rio.
Para dar um exemplo: a rua Voluntários da Pátria, principal artéria que liga a Lagoa a Botafogo, durante ano e meio esteve praticamente fechada ao tráfego para que ali se realizassem obras de infra-estrutura e embelezamento. Dada como pronta às vésperas das eleições, uma semana depois a rua já apresentava calombos e rachaduras em toda a sua extensão. Ficou tão esburacada como antes, com imensas fendas onde, de forma intermitente, são feitos reparos que nunca acabam.
Tanto a rua como o bairro concentram edifícios onde funciona grande parte do serviço médico particular do Rio. Durante as obras, os médicos deixavam o carro em seus consultórios e faziam a ronda dos hospitais e casas de saúde a pé -era impossível vencer os congestionamentos.
Depois de reinaugurada, a rua entrou novamente em obras que terminaram semana passada. O acabamento foi tão porco e precário que já existem novos buracos. Faltou seriedade durante o serviço, mas não faltou dinheiro para o ex-prefeito fazer seu sucessor.

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