São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997 |
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Para lavar o tapete
ELEONORA DE LUCENA Pela terceira vez nesta década, o Brasil mergulha em investigações complexas envolvendo dinheiro público, autoridades e empresários. Todas as negociatas já divulgadas parecem não ter sido suficientes para jogar luz no processo subterrâneo de "privatização do Estado".É quando o dinheiro de todos serve para uns poucos espertinhos e bem localizados na teia de poder. A história do Brasil está repleta de exemplos. Até hoje é possível dizer que a maior parte das grandes fortunas acumuladas no país foram forjadas à sombra do Estado, o grande pai rico. O caso mais obvio é o dos empreiteiros. O Collorgate foi primeiro grande escândalo dos 90 no Brasil. A CPI criada para apurar o escarcéu chegou a contabilizar gastos com carpas, calcinhas e canapés. No centro da folia estava o presidente da República. O assalto aos cofres públicos foi calculado em torno de R$ 1 bilhão. Veio o impeachment, e o país parecia se sentir mais leve, lavado. Naquela época, já se falava em continuar as investigações e em estendê-las aos corruptores. Depois veio a CPI do Orçamento. Apurou desvios de aproximadamente R$ 100 milhões. Jogou no ostracismo alguns parlamentares e atingiu de raspão umas poucas empresas. Agora, é a CPI é dos Precatórios. Os cálculos iniciais apontam para uma sangria de até R$ 6 bilhões, mais dinheiro do que nos escândalos anteriores. A teia de personagens também é mais diversificada. No centro da trama estão governadores, prefeitos e executivos do mercado financeiro. Mas há responsabilidades a serem apuradas entre senadores e administradores do Banco Central, personagens que assistiram a toda a história de local privilegiado. Do ponto de vista político, pela primeira vez também a chamada esquerda -e não apenas a "direita"- está no alvo das investigações. O governador Miguel Arraes, um símbolo da resistência contra o regime militar, é responsável por operações sob suspeita. A luta política dentro da CPI também parece mais acirrada. Praticamente todos os partidos políticos têm algum tipo de envolvimento com as fraudes. O partido do presidente tem de explicar a posição omissa do Banco Central na fiscalização do mercado financeiro. Mais abrangente, essa nova CPI tem como pano de fundo a falência de estados e municípios, acelerada pela política de juros astronômicos. Mas o que se vê, por enquanto, são quadrilhas organizadas para sugar o dinheiro público. Ainda não se sabe quem acabou ganhando no final. A oportunidade é importante para desbaratar, não só um esquema de corrupção, mas uma estrutura de poder. Como a CPI começa a escapar do script original, já começou o debate sobre os seus limites. Há os que querem estendê-la para o mercado -e são tachados de demagogos. E os que querem restringir as apurações. Muita coisa foi jogada para debaixo do tapete nas duas CPIs anteriores. Seria bom se essa fosse aproveitada para lavar o tapete. Seria uma boa marca para os 90. Depois da "década perdida", essa poderia ser a "da limpeza". Já que o grande crescimento econômico foi mesmo deixado para depois. Texto Anterior: O Rio nunca fica pronto Próximo Texto: Jabor pergunta Índice |
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