São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Claude Lévi-Strauss estudou os kadiwéu

Índios homenagearam Darcy Ribeiro

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL AO PANTANAL

Quando o corpo do senador e antropólogo Darcy Ribeiro (1922-97) foi velado, no dia 18 de fevereiro, alguns índios kadiwéu, antigos habitantes do Pantanal, colocaram sobre seu caixão um vaso em miniatura.
Com esse ato, os kadiwéu simbolizaram o desejo de que nada faltasse ao antropólogo numa nova vida, que viria após sua morte.
Em Paris, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss -que nasceu em Bruxelas, na Bélgica, e transformou o estudo das ciências sociais- foi um dos que se emocionaram com essa homenagem.
O antropólogo, que lecionou na Universidade de São Paulo na década de 30, também estudou e documentou a vida da tribo kadiwéu.
Isso ocorreu em 1935, quando Lévi-Strauss tinha 37 anos.
Em "Tristes Trópicos" (1955), o antropólogo, que se interessou pela etnologia depois de suas viagens pelo interior do Brasil, descreve os primeiros três dias tediosos que passou observando o cerrado, numa viagem de trem que começou em Bauru (SP).
Mas o tédio virou surpresa quando Lévi-Strauss deu de encontro com os kadiwéu na serra da Bodoquena. O livro "Saudades do Brasil", da editora Companhia das Letras, reproduz fotos dos índios, que pintam a face com desenhos cheios de fantasia e sutileza.
Mas os kadiwéu não são o único elo de Lévi-Strauss com o Brasil.
Mestre de toda uma geração de sociólogos -o que inclui até o presidente Fernando Henrique Cardoso-, o antropólogo registrou em "Tristes Trópicos" passagens como a que segue, descrevendo uma beleza que ainda pode ser vista: "...No solo, o Pantanal torna-se uma viagem onírica em que os rebanhos de zebus se refugiam como em arcas flutuantes no cimo das colinas; enquanto, nos charcos submersos, bandos de grandes pássaros: flamingos, gaviões, garças, guarazes formam ilhas compactas, brancas e róseas..."
História
Aparentados dos índios guaicurus, os kadiwéu receberam sua reserva -cuja demarcação foi feita pelo marechal Rondon, em 1899- por determinação do imperador Pedro 2º (1825-1891).
Isso ocorreu depois da destacada atuação dos índios, que são exímios cavaleiros, na Guerra do Paraguai (1864-1870).

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