São Paulo, terça-feira, 4 de março de 1997 |
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Receita de esclarecimento
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Da edição de domingo, sob o título "Nova agência terá 2 mil informantes", destaco o trecho final da reportagem: "A Abin, segundo o projeto, deverá ser apolítica, apartidária, não deverá trabalhar para interesse de grupos ou pessoas, exceto para o presidente da República -ele é quem pedirá que tipo de informação desejará".Não se trata de um clone vulgar do velho Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura Vargas. Tampouco de uma clonagem do Serviço Nacional de Informações (SNI) do recente regime militar. Trata-se da Agência Brasileira de Inteligência, cujo projeto de criação está pronto para ser remetido ao Congresso -que obviamente o aprovará. Ao contrário do DIP e do SNI, que serviam ao Estado, a Abin só servirá ao presidente da República. Além dos informantes que já o esclarecem gratuitamente, disporá de mais 2 mil profissionais. FHC será o presidente mais esclarecido da história universal. Como no modelo americano (CIA), teremos 2 mil arapongas fuçando as nossas vidas e levando ao presidente o nome de nossas amantes e de nossos credores, os livros que lemos e os amigos com os quais no reunimos. Bastará o presidente solicitar o esclarecimento: "Com quem o líder do partido tal está transando? Quanto o fulano deve ao Banco do Brasil? Aquele juiz que vai julgar aquela ação está precisando de alguma coisa? A mulher de sicrano é mesmo lésbica?". Assim esclarecido, o presidente da República reduzirá a cinzas qualquer prurido de independência do Legislativo (que já tem pouca), do Judiciário, do empresariado, da imprensa. Da última vez que tivemos coisa equivalente, fizeram uma ficha minha na qual sou autor de "Toda Nudez Será Castigada". E teria ido a Pequim buscar armas. Ficaria honrado em ter escrito a peça do Nelson Rodrigues. Mas em direção ao oriente, o lugar mais longe a que cheguei foi Niterói. Texto Anterior: A estratégia de Wagner Ramos Próximo Texto: As duas reformas da Previdência Índice |
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