São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Polícia acha 'IML clandestino' em funerária de Carapicuíba

Havia seringas e material para embalsamar corpos

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia apreendeu ontem à tarde materiais, equipamentos e documentos que levam a crer, segundo o delegado Romeu Tuma Júnior, que um verdadeiro IML clandestino funcionava no interior da agência funerária Souza, em Carapicuíba (Grande São Paulo).
A agência foi lacrada pela polícia anteontem à noite. No último domingo, sete pessoas, entre elas os donos da funerária, foram presas em flagrante acusadas de fazer parte de uma quadrilha de falsificação de atestados de óbito.
"Aquilo era um IML clandestino. Tinha de tudo lá dentro", afirmou Tuma Júnior. Na funerária, a polícia encontrou um quarto cheio de sacos de serragem, galões de formol e diversos outros produtos químicos e sacos de cal.
Em outro cômodo, foram apreendidos diversos equipamentos cirúrgicos, como seringas, facas, tesouras e bisturis. Até um serrote foi encontrado no local.
Todo o material vai ser encaminhado para exames periciais no IC (Instituto de Criminalística). Tuma Júnior tem grandes suspeitas de que a funerária realiza, entre outras coisas, o embalsamamento dos corpos, o que é proibido.
A polícia apreendeu ainda centenas de cópias de atestados de óbito, alguns datados de 88.
Segundo Tuma Júnior, 99% dos atestados traziam como causa mortis parada cardiorrespiratória e infarto agudo. A polícia já sabe que em muitos casos a causa da morte não foi essa.
Além disso, boa parte das cópias era a via do atestado que deveria ser encaminhada ao Ministério da Saúde, ou seja, essas mortes não entraram nas estatísticas oficiais.
Os atestados são assinados por diversos médicos, alguns já indiciados. Os corpos também foram retirados em vários hospitais.
"Ainda não dá para ter idéia de quantos atestados são falsificados", afirmou Tuma Júnior, que inicia hoje uma análise detalhada de toda a documentação. Dois computadores e várias agendas também foram apreendidas. A blitz durou cerca de seis horas.
O esquema de falsificação de atestados começou a ser investigado no final do ano passado, quando a polícia descobriu uma quadrilha que oferecia, mediante pagamento, facilidades na liberação do corpo de pessoas mortas por causas não esclarecidas no Hospital Heliópolis (zona sul de SP).
O pacote incluía atestado de óbito falsificado, liberação do corpo sem a necessidade de autópsia e caixão, com preço acima do mercado. Esse esquema favorecia funerárias de São Caetano do Sul.
Além das sete pessoas presas em Carapicuíba, outras sete já foram indiciadas até o momento.

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