São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Um presente a São Paulo

RUBEN CESAR KEINERT

Curitiba encontrou o seu projeto de "cidade saudável" e, em torno dessa estratégia, buscou soluções para os problemas do cotidiano de seus moradores: ampliou áreas verdes, remodelou o sistema viário, repensou o transporte coletivo, implantou a coleta seletiva do lixo, criou um distrito para indústrias não-poluidoras, valorizou o centro histórico e por aí foi com diversas iniciativas sociais e culturais.
O Rio de Janeiro, por sua vez, tentou aproveitar a candidatura a sede da Olimpíada de 2004 para (re)projetar-se internacionalmente como centro cultural, turístico e de negócios. Claro que um projeto dessa envergadura passa necessariamente por garantir segurança básica e boas condições de infra-estrutura urbana para sua população atual e virtual.
O grande objetivo era, baseando-se no exemplo conhecido de Barcelona, aproveitar um evento de repercussão planetária para lançar-se como "cidade mundial" e, desse modo, reverter a alarmante tendência de degeneração econômica e moral, comum aos dois casos.
Enquanto isso, São Paulo, deitada em berço outrora esplêndido, permanece assistindo a gestões de prefeitos municipais que se sucedem na estafante busca da miragem das grandes soluções para os problemas físico-territoriais ou sociais (a última gestão tentou inovar buscando as duas miragens ao mesmo tempo, deixando para o seu sucessor bancar o endividamento decorrente).
No entanto, apesar dos quilômetros de avenidas, túneis e viadutos construídos ou mesmo das dezenas ou centenas de novos postos de saúde, escolas e unidades habitacionais populares instaladas, persiste a continuada sensação de morar num ambiente urbano degradado, onde se é vítima cotidiana de paralisações ou lentidão no trânsito, de enchentes, da insegurança pessoal generalizada e das mazelas que poluem o cenário econômico e social.
O sentimento dominante no paulistano é que não há jeito, não há futuro e, portanto, o presente não tem significado além da fruição ou padecimento que oferece a cada um.
Curitiba e Barcelona continuam enfrentando problemas de cidades em mudança; o Rio certamente não espera resolver da noite para o dia a sua inquietante equação a várias incógnitas. A diferença é que optaram por um projeto, oferecem perspectiva dinâmica de orientação para ações individuais e coletivas. São Paulo tem vocação para "cidade mundial". Mas precisa ter consciência coletiva a respeito disso, precisa fazer o seu projeto, ganhar um presente.

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