São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Cibo Matto faz underground acessível

CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que têm em comum alcachofras, Sérgio Mendes, o Village nova-iorquino, samplers, vocais à B-52's e batidas hip hop? Cibo Matto, uma dupla nipo-americana, peculiar sensação recente do fã alternativo que lê "Spin" e assiste ao "Lado B" da MTV. Seu novo disco "Viva! La Woman" está saindo no Brasil agora.
O Cibo Matto (algo como "comida louca" em italiano) vem de uma linhagem que, embora underground, faz pop acessível. Não como Whitney Houston ou Madonna, naturalmente acessível. Mas "ironicamente" acessível, tipo "vamos brincar de ser povão/brega/FM", como já fizeram antes St. Etienne, Cardigans, Pizzicato Five e, bem, a banda Vexame, com resultados variando entre o sublime e o ridículo.
Miho Hatori (voz) e Yuka Honda (samplers, teclados) se conheceram no Village nova-iorquino, quando tocaram na mesma banda punk, Leith Lyches. O fato de uma banda ser do Village nunca deve ser subestimado, pois no mundo inteiro esse é um dos ambientes que mais facilitam que artistas dêem as mais pretensiosas derrapadas em conceitos escorregadios como "arte" e "vanguarda". Vide David Byrne, Laurie Anderson, Deee-Lite e Arto Lindsay. Este último é uma conexão importante para entender o Cibo Matto.
Yuka, em entrevista para a Folha, conta que cantou na banda do músico brasileiro-americano durante uma turnê, chegando até a dividir o palco com o invencível Caetano Veloso, que deu uma canja numa apresentação em Londres. "Foi incrível, inacreditável", suspira. Yuka adora música brasileira.
"Fui ao Rio e a São Paulo há uns seis anos e conheci muita música brasileira. Adoro coisas como Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben, Naná Vasconcelos... e Sérgio Mendes, muito Sérgio Mendes."
Comida
E Yuka adora comida. As músicas de "Viva! La Woman" têm nomes como "Apple" ("maçã"), "Artichoke" ("alcachofra") e "White Pepper Ice Cream" ("Sorvete de pimenta branca).
É importante entender que comida aqui não é no sentido guloso mundano "pizza quatro queijos-Coca dois litros-sorvete de cookie" da coisa, mas algo bem mais elevado.
"Gosto dessa idéia da comida como reação química", conta Yuka. "o principal não é ser saborosa, e sim boa para você. É a única substância que você põe no seu corpo e ela se torna parte dele."
O título do disco, "Viva! La Woman", é uma celebração da feminilidade. "Foi uma das coisas em que mais pensamos quando fizemos o disco. Estávamos tão orgulhosas que fizemos quase tudo sozinhas. Queríamos encorajar as outras meninas por aí."
Quanto à obsessão por coisas do passado, incluindo fontes musicais que já foram consideradas cafonas, ela diz que não é ironia.
"As pessoas tendem a achar que hoje em dia se faz a melhor música, mas tem muita coisa boa nos 60 e 70. Pegamos e damos nossa identidade. Não estamos sendo irônicas, só gostamos de ser engraçadas."

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